O futuro pelos olhos de Cubarsí, Yamal e Quenda
Geovany Quenda (GRAFISLAB)

O futuro pelos olhos de Cubarsí, Yamal e Quenda

OPINIÃO28.10.202406:40

Pau Cubarsí i Paredes: 22 de janeiro de 2007. Lamine Yamal Nasraoui Ebana: 13 de julho de 2007. Geovany Tcherno Quenda: 30 de abril de 2007. Os três com 17 anos. Será que andamos a ver o futuro?

Há mais de 65 anos, a 8 de março de 1958, o enormíssimo Nélson Rodrigues, um dos mais aclamadas cronistas de língua portuguesa, escreveu na revista Manchete Esportiva, após um Santos-América-RJ, 5-3, com quatro golos de Pelé, então com apenas 17 anos: «É um menino, um garoto. Se quisesse entrar num filme de Brigitte Bardot, seria barrado. É um génio indubitável! Pelé podia virar-se para Michelangelo, Homero ou Dante e cumprimentá-los com íntima efusão: 'Como vai, colega?'».

Lembrei-me desta histórica crónica durante o último Real Madrid-Barcelona (0-4). Pau Cubarsí i Paredes: 22 de janeiro de 2007. Lamine Yamal Nasraoui Ebana: 13 de julho de 2007. «Dois meninos, dois garotos», escreveria Nélson Rodrigues sobre Cubarsí e Yamal, ambos com 17 anos. Se quisessem ir ao cinema para assistir a um dos filmes mais picantes de Pedro Almodóvar, talvez fossem barrados. E, no entanto, naqueles pouco mais de 90 minutos do Santiago Bernabéu foram eles que barraram Mbappé, Vinicius Jr, Bellingham, Valverde, Camavinga ou Tchouaméni. Naquela noite de 26 de outubro de 2024, Cubarsí poderia virar-se para Beckenbauer ou Baresi e dizer: «Como vão, colegas?». E Yamal, nessa mesma noite, poderia virar-se para Messi e Ronaldinho Gaúcho e dizer: «Como vão colegas?».

Há uns anos, num jogo do Santos, vi o futuro: Neymar Júnior, Paulo Ganso e Robinho. Era a genialidade mais pura que algum dia vira num campo de futebol. Ganso ficou a um quarto do caminho do futuro, Robinho ficou a metade do futuro e Neymar, um dos mais brilhantes virtuosos do Século XXI, teve dias em que tocou no futuro e outros em que pareceu preferir a vida mundana ao futuro. Ninguém sabe o que o futuro reserva a Cubarsí e a Yamal. Sabe-se apenas que, aos 17 anos, o presente é fantástico. Yamal é Yamal e todos o conhecemos há mais de um ano. Cubarsí é diferente. Conhecemo-lo bem apenas desde a segunda volta da época passada. E é central. Central! Central de 17 anos titular de uma equipa como o Barcelona! Beckenbauer com 17 anos não jogava no Bayern! Baresi com 17 anos quase não jogava no Milan! E Cubarsí joga tanto, meu Deus! Será que vimos o futuro no Real Madrid-Barcelona?

E Geovany Tcherno Quenda? 30 de abril de 2007! 17 anos! Pode começar a virar-se para João Félix, por exemplo, e dizer-lhe: «Como vai, colega?». Quenda: tão grande e, porém, não entrava num filme de Fábio Paim.