O dérbi já começou bem
Dois treinadores falaram muito e bem. Quando os protagonistas percebem que nem um jogo de extrema importância serve de justificação à falta de esclarecimento, fica tudo mais fácil
Os adeptos do Sporting e do Benfica vivem hoje um dia especial. Chamam-lhe o dérbi eterno e não é por acaso: em jogo não estão apenas três pontos, mas uma rivalidade que está agora mais viva do que estaria com Ruben Amorim e Roger Schmidt ainda ao comando das respetivas ex-equipas, pois acredito que a tabela seria bem diferente nesta altura.
A antevisão a uma partida desta importância é sempre um momento delicado, ainda mais numa semana com tantas notícias destabilizadoras (não por culpa das próprias notícias, claro, porque essas são factos, mas pelo efeito que provocam). Desde a troca de treinador nos leões à pressão do mercado nas águias, passando ainda por viagens de muitos quilómetros e pelas dúvidas em relação a lesões, os rivais de Lisboa tinham matéria que sobrava para apimentar ainda mais o dérbi.
Rui Borges e Bruno Lage assumiram o desafio mais ou menos da mesma forma: descontraídos (pelo menos aparentemente), responderam a tudo e foram além das frases feitas que não dão só maus títulos, mas sobretudo não satisfazem nenhum adepto (e convém não esquecer que é para eles que se fala). O novo treinador do Sporting (também beneficiado pela comparação recente com João Pereira) falou durante muito tempo, não se atrapalhou nas palavras e quando deixou dúvidas - sobre lesionados - voltou atrás e foi direto ao assunto. Já o técnico do Benfica, com voz rouca mas disponível, sabia de antemão quais as perguntas mais difíceis que iam ser inevitavelmente feitas (as palavras de Jorge Mendes sobre António Silva, as viagens de Otamendi e Di María...) e enfrentou-as com sinceridade e assumindo as suas decisões e as posições do clube, conforme se exige a um líder. Dispensava-se apenas a pressa que teve a antecipá-las, desafiando os jornalistas a fazê-las de vez.
Também se falou de futebol, desde o sistema tático que pode ou não mudar no Sporting, à forma como se prepara um jogo em poucos dias ou o que se espera do adversário, e ambos parecem dispostos a dar um bom espetáculo esta noite - e esta Liga precisa tanto disso! Ainda não sabemos se vão corresponder às expectativas em campo, mas pelo menos Rui Borges e Bruno Lage saíram do esconderijo protecionista dos clubes e comunicaram bem, deixando os adeptos com mais água na boca para o dérbi. Se todos perceberem mais vezes qual é o seu papel e de que forma podem tornar isto mais interessante, será muito mais fácil ter dérbis com um bom ambiente. Esperemos que esta disponibilidade seja para durar...