EDITORIAL O dérbi é património histórico
Schmidt é, de facto, um mistério, mas a sua continuidade não pode ser já posta em causa
Não existem jogos decisivos à décima primeira jornada de um campeonato. E, de facto, também não faz sentido, no atual momento, colocar em causa a continuidade de Roger Schmidt no Benfica ou torná-la dependente do resultado do dérbi. Um clube grande tem de ter dirigentes grandes e responsáveis. A ideia da chicotada psicológica à antiga portuguesa, antes de ser um sinal de força e de autoridade, é um sinal de fraqueza e de insegurança. É verdade que Schmidt é um mistério. Não se sabe como é que ele, na época passada, pôs o Benfica a jogar um futebol moderno, intenso, pressionante, capaz de produzir excelentes espetáculos e ótimos resultados e este ano é o líder de uma equipa precocemente cansada, psicologicamente débil, estendida por espaços abertos e abandonados, com jogadores que perdem a maior parte dos duelos, que chegam sempre depois dos outros, que somam individualidades sem chegar a um fator comum. E isso, de facto, não se entende. No entanto, a verdade é que, seja qual for o resultado com o Sporting, o Benfica não deixará de estar no pelotão da frente e continuará em condições de lutar pelo título. Será isto pouco para os benfiquistas? Admito que sim, que os benfiquistas sejam adeptos mais exigentes e que não se limitem ao sonho da festa no Marquês. Admito que queiram ver a equipa ganhar e jogar bem, até porque esse era um doce hábito que resultou do que viam na época passada.
Claro que um Benfica-Sporting não é um jogo qualquer. Este é o dérbi do futebol português. Com o tempo inventaram-se outros que resultam de pequenas rivalidades de vizinhança. Porém, o dérbi é sempre uno e indivisível. Benfica e Sporting são históricos rivais e essa rivalidade tem uma dimensão nacional. É um património histórico, mais do que do futebol, do desporto português. E não se entenda isto como um desvalorização de terceiros. Há outros grandes jogos e outras grandes rivalidades, mas não são dérbis, são clássicos.
Portanto, não nos enganemos. O dérbi de hoje, na Luz, não é decisivo, mas é importante. Em primeiro lugar, porque é um dérbi; depois, porque deixará um rasto de sinais significativos sobre as duas equipas em confronto. O Sporting desejará afirmar o mérito da sua liderança e surfar a onda da vitória; o Benfica precisa urgentemente de afastar o fantasma da crise.