O chicharro e a garoupa
Os custos do futebol estão pela hora da morte. De repente, de supetão, entrou no mercado televisivo português um novo canal que tem o exclusivo da Liga dos Campeões. Assim de repente, contas por alto, quem quiser assistir a todos os jogos das principais equipas portuguesas tem de pagar, no mínimo, à volta de 80 euros por mês - quase 50 só para poder ver a bola e subscrever um pacote mínimo na plataforma de distribuição, que ronda os 30. São 600 euros por ano só para se ver futebol.
Em Inglaterra, em termos comparativos, paga-se por ano um valor a rondar os 1500 euros para se poder ver todo o futebol e mais algum. Pois, é verdade, é um balúrdio, mas portugueses e ingleses pagam, em termos de média financeira, o mesmo para assistirem ao beautiful game, pode-se é atentar ao facto de que o salário mínimo em Inglaterra ronda, precisamente, os 1500 euros mensais e em Portugal anda perto, também, dos 600 euros por mês, e de que a qualidade do futebol inglês - julgo não existirem grandes dúvidas sobre a matéria - é substancialmente superior à cá do burgo. Portanto, é mais ou menos como ir à praça do peixe e comprar o chicharro ao preço da garoupa. Por muito que se goste de chicharro, se a garoupa é mais cara, por alguma razão é.
A Liga e a FPF, nos últimos anos, muito têm contribuído para (alguma) evolução do futebol nacional, mas entre tantas comissões, grupos de trabalho e de estudo, ninguém olhou para isto? E o Governo, nada? É que uma indústria só é sustentável com consumidores, e se estes tiverem de optar entre ver o futebol e mais umas refeições para a família, julgo eu, decidirão por esta última, seja de garoupa, de chicharro ou de petinga.