O caminho da FPF
Livre e Direto é o espaço de opinião semanal de Rui Almeida, jornalista
Talvez seja dos lugares mais apetecíveis em Portugal. Não apenas no futebol ou no desporto em geral. Mas no país. É uma posição com influência direta e indireta na gestão e na orientação da maior federação desportiva portuguesa, mas sobretudo de uma transversal capacidade de interação com toda a sociedade.
É um lugar privilegiado, também, do ponto de vista financeiro, mas creio que a sua verdadeira dimensão e alcance devem ser analisados e compreendidos muito para lá desse detalhe. E é uma posição que permite diálogo, projeção, unificação, envolvimento.
O mais tardar até fevereiro de 2025 (portanto, nos próximos cinco meses), será eleito um novo Presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF). Com ele, evidentemente, uma nova Direção e um conjunto de órgãos sacramentais na gestão do futebol nacional e na criação de condições estruturais para que ele seja cada vez mais democrático, abrangente, inclusivo e reconhecido.
São, de resto, estes os grandes desafios para o próximo quadriénio. A FPF de hoje é uma estrutura altamente profissionalizada, servida por colaboradores de elevada dimensão técnica, intelectual e humana, e enquadra-se num curtíssimo lote de empresas de excelência em Portugal, apetecíveis enquanto propiciadoras de uma carreira profissional de sucesso, mas igualmente seguras na estabilidade que sempre se requere, quando se antevê o futuro.
O desafio de um futebol mais democrático é, porventura, o maior e mais árduo de estruturar. Porque depende de um trabalho (iniciado há algum tempo) de engajamento das 22 associações distritais e de todas as associações de classe que dão forma à própria FPF.
À compreensão essencial das diferenças de cada uma das parcelas do território nacional, entre o despovoamento do interior e a atração do litoral, passando pela insularidade madeirense e pela dupla insularidade açoriana (que, no futebol, se transforma em tripla pela existência, justamente, de três associações replicando a antiga divisão administrativa distrital do arquipélago), junta-se a necessidade de um desenvolvimento harmonioso, da criação de uma estratégia de diálogo permanente e de articulação na diversidade de ideias e propostas.
A construção do edifício federativo passa, justamente, pela filigrana integrada de todas as realidades nacionais, conseguindo, nas diferenças, encontrar pontos de suporte e de verdadeira catapulta para os sonhos e ambições de cada uma.
Essa democracia do futebol será, sempre, o verdadeiro leit motiv de uma federação moderna, dialogante e visionária.
E a abrangência de que falei acima prende-se exatamente com a capacidade de integrar, de compreender e modernizar métodos, de suscitar discussões profundas e conclusivas sobre os caminho que o futebol português deverá traçar e trilhar no futuro. Esta capacidade de puxar para si a dinâmica única de uma construção com todos, agregadora, motivadora, desafiadora, saindo da caixa dos projetos instituídos e institucionalizados e partindo para uma busca estratégica a 20 ou 30 anos.
A FPF já deu, aliás, passos decisivos, colocando-se e cotando-se como benchmark a nível mundial em dois capítulos.
Com a criação do Canal 11 tornou-se a primeira federação do planeta a dispor de uma ferramenta única e diferenciadora, como um canal 24/7 news de sinal aberto, com objetivos muito claros desde 1 de agosto de 2019, cumpridos diariamente com o esforço e a competência de uma equipa que sabe estar a escrever história a cada minuto de emissão.
E com o surgimento da Portugal Football School colocou-se na vanguarda da formação pós-universitária, especializada e focada nas temáticas mais prementes e candentes do futebol, nas suas mais diversas franjas, e na investigação, sendo hoje padrão internacional de competência e reconhecimento.
Dos desafios citados, a inclusão é, também, uma aposta ganha ao longo dos tempos, mas que deverá ser redefinida de acordo com parâmetros técnicos e sociais que evoluem todos os dias, e requerem de uma entidade de reforçada responsabilidade social uma redobrada e permanente atenção.
De resto, todos estes momentos e condimentos do futebol português contribuem para a sua certificação e reconhecimento, o último dos parâmetros que foquei. É essencial manter o quadro de desenvolvimento dos escalões de formação, mas integrar neste setor a arbitragem, para que o futuro possa criar condições para um bom lobby internacional num campo particularmente sensível.
E reforçar a presença transversal na organização e na massificação das competições, sejam de caráter profissional ou para os escalões etários mais elevados, sejam no cumprimento de premissas que já levam a que muito mais rapazes e raparigas, de facto, procurem o futebol, o futsal, o futebol de praia e o entendam como um objetivo para as suas vidas, mesmo que apenas na ocupação de tempos livres e sem horizontes profissionais.
Estamos, no limite, a cinco meses da eleição mais importante da história da FPF, porque marcará a sucessão de Fernando Gomes, figura maior do desenvolvimento estrutural da última década.
Serão necessários Planeamento, Organização, Visão e Estratégia.
Quem os tem? Quem os revela? Quem lhes dá forma? Quem?…
Cartão branco
A gestão que Rúben Amorim tem feito, nos últimos largos meses, rima com campeão. O treinador do Sporting que, em quatro anos, venceu duas ligas, é, provavelmente, dos melhores comunicadores do futebol português. Tal radica, certamente, na componente de media training dos leões, mas parte de uma base muito favorável do próprio treinador, que tem competências muito interessantes na área da gestão da comunicação interna e externa. Não é simples gerir egos múltiplos num balneário, focá-los num objetivo e levá-los à sua conquista. Amorim parte, em relação aos rivais, com essa vantagem.
Cartão amarelo
Desde o seu renascimento competitivo, a UD Leiria tem sido uma agradável surpresa, pela capacidade em campo, mas também pela mobilização da cidade em torno do seu clube mais representativo. O estádio Municipal Dr. Magalhães Pessoa (uma das obras para o Euro-2004), apresenta assistências recorde. O concerto que destruiu o relvado e, portanto, levou à sua óbvia interdição, é a prova acabada de que, sem diálogo, compreensão, gestão concertada em torno dos objetivos mais importantes a cada momento, entre edilidades e clubes, as consequências podem ser muito negativas…