Bruno Lage na conferência de imprensa do Benfica
Bruno Lage na conferência de imprensa do Benfica (Foto: Miguel Nunes)

O «alvo mais fácil», de Lage a Amorim

OPINIÃO27.01.202507:30

'Para lá da linha' é uma opinião semanal

O áudio, eventualmente com cortes, com o excerto de uma conversa-discussão entre Bruno Lage, treinador do Benfica, e adeptos, ocorrida na garagem do estádio da Luz - resta saber como lá chegaram -, depois da derrota com o Casa Pia (1-3) evidencia muitas coisas sobre o momento interno do clube. Podia pegar em várias, mas uma, usada pelo treinador em sua defesa - já depois de, ainda em Rio Maior, ter pedido apoio dos adeptos -, chamou-me a atenção. 

«O primeiro alvo, mais fácil, é o treinador, se não tiver o vosso apoio. E depois vem outro, e vem outro, e vem outro e não vai conseguir resolver o problema». Tirei os palavrões, mas fica bem explicada a ideia. O problema é mais profundo, e não ficou resolvido com as respostas que deu à tarde.

Já se sabe que uma chicotada psicológica tem quase sempre efeito imediato desejado: sai o treinador, há uma vitória. Exceção recente foi José Tavares, que substituiu Vítor Bruno e não conseguiu com o FC Porto dar esse empurrão, mas costuma resultar. Já Sérgio Conceição entrou no Milan a substituir Paulo Fonseca e continua a injetar força, mesmo que isso signifique uma zanga com um jogador da própria equipa.  

O problema é o efeito a longo prazo, e muitas vezes a novidade logo passa. Terá razão Bruno Lage, ao dizer que mudar o «alvo fácil» não chega? Por vezes não se muda mesmo.

Eis dois exemplos em Inglaterra, onde a longevidade dos treinadores costuma ser elogiada. Ange Postecoglou é (era, à hora de fecho deste texto) treinador Tottenham desde junho de 2023. É muito ou pouco tempo? Em dia de jogo (e derrota com o Leicester) os adeptos visaram o presidente Daniel Levy com um cartaz curioso – «24 anos, 16 treinadores, um troféu.» Parece que identificaram o 'verdadeiro' problema.

E há Ruben Amorim. Imparável no Sporting (que a partiu daí sofreu), chegou ao Manchester United com empate, teve altos e baixos e avisou que vinha aí uma tempestade. Mais de uma mão cheia de derrotas depois, já se falou em despedimento? Não. Em culpa? Sim. Mas por lá não há encontros em garagens, muito menos gravados.