Ninguém acima do Benfica
Roger Schmidt no jogo frente ao Rangers. Foto: IMAGO/Maciej Rogowski
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Ninguém acima do Benfica

OPINIÃO12.03.202411:54

Pressão está em redor de Schmidt e daqueles que o escolheram

Quase a fechar a primeira parte frente ao Estoril-Praia, o Estádio da Luz foi obrigado a concentrar a sua atenção em duas tarjas a sul. Uma manifestou desejo na saída de Herr Schmidt e outra fez relembrar, e bem, que ninguém está acima do Clube.

Na sua conferência de imprensa pós-jogo, Schmidt deu a saber que não as viu, nem leu. Mas já sabe que existiram e que a pressão está em seu redor e daqueles que o escolheram. O ato de despedir ou não um treinador remonta aos primórdios. Porém, de forma prática, há que colocar em cima da balança dois pesos distintos no âmbito da gestão desportiva e financeira. Portanto, revela-se mais correto dispensar-se os seus serviços (independentemente do percurso final vivo em 3 competições) e abrir os cordões à bolsa para uma inevitável indemnização (por despedimento) ou, por outro lado, aposta-se nele até final da temporada numa tentativa de operação menos custosa se os dirigentes pretenderem chegar a acordo para desvinculação amigável? Relembro que Schmidt aufere 4 milhões limpos (8 milhões brutos) na presente época 2023/24 e em 2024/25 passará para os 5 milhões limpos (10 brutos). Se chegar a 2025/26, ganhará 6 milhões limpos (12 brutos).

A aposta no alemão teve contornos peculiares por lhe ter sido renovado contrato numa fase proibida da época 2022/23 (sem nada ter ganho e com muito por provar). Rui Costa até pode tentar justificar com o assédio sentido ao seu treinador. E então? Libertam-se jogadores por um preço em mercado aberto. Também se pode fazê-lo com treinadores. E, já agora, só cá fica quem quer (não há insubstituíveis).

A verdade é que o processo de desgaste já se iniciou. Para já, sócios e adeptos manifestam-se com base em exibições e resultados desportivos (negativos). E se estes perdurarem no tempo imediato, vai-se entrar numa fase de crítica globalizada, sendo certo que, no universo benfiquista, lá surgirão novamente dois tópicos quentes e mantidos em stand-by no armário: alteração estatutária e auditoria.

Mas há mais por onde explorar e que está à vista desarmada. Ainda esta semana debatia com um colega de profissão as evidências do relatório de contas da SAD a 30-06-2023 referente à época 2022/23 com dívida líquida de 140,8 milhões de euros, rendimentos operacionais (sem transferências de atletas) de 195,8 milhões e gastos operacionais (sem transferências de atletas) de 245,8 milhões. A rubrica de fornecimentos e serviços externos (FSE) disparou de 67,692 milhões em 2021/22 para 82,106 milhões. Um aumento de 21% e parcialmente justificado com deslocações/estadas penalizadas pelos aumentos de preços generalizados no setor das viagens e pela gestão operacional da sua BTV. Basicamente, enquanto o passivo rondava os 444,6 milhões, o relatório do 1.º semestre da época 2023-24 (entre 01-07-2023 e 31-12-2023) revela que a dívida líquida subiu para 192,4 milhões, o que equivale a um crescimento de 36,6% face a 30 de junho de 2023 com rendimentos operacionais (sem transferências de atletas) a reduzirem 4,6% mas com os gastos operacionais (sem transferências também) a aumentarem 11,3% face ao 1.º semestre do exercício anterior. Esta variação foi principalmente explicada pelo aumento ocorrido nas rubricas de amortizações, pelas perdas de imparidades de direitos de atletas e de FSE. Percebe-se que, para além do saco roto que os FSE sempre representam, há casos de perda de valor anormal de ativos que ascende a 43,9 milhões de euros, resultando num crescimento de 16,2% face ao período homólogo.

O leitor pode considerar estes dados como entediantes mas lembre-se que o ativo pode ajustar-se consoante as necessidades (com base nos valores desportivos dos atletas). Já o passivo não engana. A exposição atual da SAD nota-se nas amortizações e perdas de imparidade de direitos de atletas (28,3 milhões = aumento de 23,9% face ao período homólogo) e nos saldos das rubricas de empréstimos obtidos (193,3 milhões = aumento de 14,1% face a 30-06-2023), que foram explicados pelos financiamentos contratualizados este semestre e justificados com os investimentos realizados no plantel de futebol que permitiram valorizar o ativo. Com o passivo nos 442,2 milhões, será que os ativos (atletas) inflacionados da SAD o cobrem?