BOLA DO DIA Não existem pessoas iguais
Receio dos adeptos do Sporting tem justificação, mas João Pereira merece o benefício da dúvida, tal como Vítor Bruno, que não pode ser avaliado pelo tom de voz
João Pereira só faz a estreia como treinador do Sporting no próximo dia 22 (Amarante, para a Taça de Portugal), mas já sabia que a sua conferência de imprensa de apresentação daria pontapé de saída ao jogo das comparações com Ruben Amorim. Tão errado quanto inevitável, mas consequência natural do legado que o agora treinador do Manchester United deixa em Alvalade, inclusive na comunicação.
Na primeira declaração pública como novo técnico leonino, João Pereira revelou um bom equilíbrio entre humildade e confiança, e até teve um momento mais emotivo a reforçar a ligação ao emblema que carrega ao peito. Fez tudo certo, portanto, mesmo sabendo, logo à partida, que a tendência seria dizer-se que o Sporting já começou a perder com a mudança de treinador. Se Amorim tinha pouco a perder quando os leões pouco ganhavam, o sucessor sabe que encontra um contexto mais favorável, mas também mais exigente. O convite de Frederico Varandas era tão irrecusável quanto aquele que levou Ruben para Manchester, e pelo menos na teoria João Pereira parece ter o caminho bem traçado: não saber estragar é uma virtude, que o tempo obrigará sempre a moldar.
A capacidade de ajustar foi um dos maiores méritos de Amorim, sagaz a aproveitar as características dos jogadores que iam chegando para tornar a equipa melhor a cada ano. O primeiro título mostrou que era a pessoa certa no lugar certo e no momento certo, mas conseguiu provar depois que essa conquista não foi um acaso pandémico, ao transformar uma equipa vincadamente defensiva numa proposta bem mais completa, virada para o ataque. O maior mérito comunicacional de Amorim esteve sempre na clareza com que cativou os jogadores, bem ilustrada pelo conselho deixado ao sucessor, e por este revelado: «João, sempre que queiras inserir um comportamento, uma nova dinâmica, uma coisa nova na tua equipa, e não consigas numa frase simples ou numa palavra explicar isso, é porque ainda não estás preparado para passar.»
Não existem duas pessoas iguais, e se isso justifica o receio dos adeptos sportinguistas também deveria guiar a análise de (alguns) adeptos do FC Porto às derrotas com os rivais. Vítor Bruno tem de estar preparado para explicar a goleada sofrida com o Benfica, e até ser confrontado com a falta de agressividade da equipa na Luz, mas não pode ser acusado de ter perdido porque não levantou a voz ou porque não bateu no peito.