Moeda ao ar
Sérgio Conceição no jogo com o Arsenal, em Londres, da Liga dos Campeões. Foto: IMAGO

Moeda ao ar

OPINIÃO14.03.202411:00

Sérgio Conceição casa na perfeição com o FC Porto, partilham a mesma natureza, para o bem e para o mal

O FC Porto deixa a Liga dos Campeões pela porta da frente e discutiu a passagem aos quartos de final com o líder da Premier League até ao desempate por penáltis. Não é coisa pouca, mesmo que de pouco consolo possa servir a quem razões teve para acreditar que tudo poderia ter sido ainda melhor.

Já ninguém, nos dias que correm, arrisca sequer admitir o valor de uma espécie de vitória moral, jogadores e treinador serão os primeiros a desprezá-la e, no entanto, seja esse o sentimento depois do adeus em Londres à competição ou outro qualquer, podemos ter a certeza de que alimentará os dragões para novos triunfos e conquistas.

Aqui chegados é impossível ignorar que é a Sérgio Conceição que se deve atribuir o mérito maior. Três títulos de campeão, duas Supertaças, três Taças de Portugal, uma Taça da Liga, duas presenças nos quartos de final e três nos oitavos de final da Champions e sete anos depois de ter tomado conta da equipa, não haverá muitas dúvidas de que já deu mais ao clube do que recebeu, mesmo com erros pelo caminho, que os houve, mesmo que venha um presidente dizer que todos os jogadores contratados tiveram o aval do treinador, o que custa muito a acreditar.

Emergiu, nestes sete anos, o trabalho de um treinador sob o constrangimento de uma situação financeira pouco transparente e ainda menos saudável. Houve soluções para os desafios que poderiam fazer vacilar os menos bem preparados e, esta época, num contexto em que o FC Porto esteve mais vulnerável do que nunca, desportiva e politicamente, por haver pela primeira vez alguém que ameaça o poder, Sérgio Conceição transformou, emocional e taticamente, a equipa para não apenas resistir como também reagir a circunstâncias que deitariam abaixo os mais fortes.

Sérgio Conceição casa na perfeição com o FC Porto, partilham as características da mesma natureza de não desistir, de lutar contra as contrariedades, reais ou imaginárias, do trabalho, da dedicação, do amor, da explosão, da franqueza.

Mas, como se viu em Londres, no desentendimento depois do fim do jogo com o treinador do Arsenal, há o outro lado da moeda, do mau comportamento, do mau perder, do insulto, da vitimização, do desdém, das expulsões em campos de futebol.

Poderá ter o treinador do FC Porto motivos para estar chateado com Arteta, talvez nos provocasse uma reação ainda pior, mas o ato deliberado de confrontação só o diminui, quando deveria ter saído daquele palco apenas engrandecido e louvado.

Já muitos tropeçámos na teoria de que só conhecemos realmente a verdade de uma criança, de alguém embriagado ou de alguém irritado. E não foram poucas as vezes que todos já vimos, no exercício da profissão, o comportamento de Sérgio Conceição quando está chateado. Seria injusto, porém, reduzi-lo a isso. Saberá a maioria que tem um grande coração, que até não gostará que se saiba o bem por trás do pano da fama. É uma personalidade fascinante.

Com Sérgio Conceição dificilmente sabemos o que esperar. É quase como atirar a moeda ao ar. Cara ou coroa?