Mínimos Olímpicos
Rui Brangança esteve nos Jogos Olímpicos quando representava o V. Guimarães (Foto André Alves)

Mínimos Olímpicos

OPINIÃO30.07.202408:00

André Coelho Lima reflete sobre a participação portuguesa nos Jogos de Paris e nos vindouros

1- Aproveito o título do livro do magnífico cartoonista d’A BOLA Luís Afonso, apresentado a semana passada, para intitular este texto que queria dedicar aos Jogos Olímpicos. Com início precisamente em Olímpia, na Grécia, no século VIII a.C, os chamados Jogos Olímpicos da Antiguidade duraram treze séculos! Os jogos da era moderna têm apenas 128 anos, desde o seu reinício em Atenas em 1896, dois anos após o Barão Pierre de Coubertin ter fundado o Comité Olímpico Internacional.

Proponho-me arriscar refletir sobre a participação portuguesa, antes mesmo de saber os seus resultados. Desde logo, para obviar as clássicas conclusões sempre estribadas nos resultados: se tivermos as medalhas esperadas, sobrarão encómios; se as não tivermos, surgirão as críticas de quem já sabia que tudo correria mal, ainda que o não tivesse dito antes. Não pretendo por isso falar sobre os resultados, mas sobre como nos preparámos para esses resultados. Sobre política desportiva consequente, sobre investimento de médio/longo-prazo, sobre projeto. Porque é isso que, em minha opinião, interessa debater em termos de política desportiva e não fazer análises penduradas nos méritos de um ou outro génio.

Portugal tem uma dimensão populacional que torna aritmeticamente menos provável poder aparecer nos lugares cimeiros do medalheiro. Mas tem, por isso mesmo, obrigação de projetar, planificar, preparar um projeto desportivo para produzir resultados nos próximos 20 anos. E para isso é absolutamente nuclear a aposta no desporto escolar. Não propriamente na disciplina de Educação Física, mas antes na criação de verdadeiras condições para a prática de vários desportos com nível para-competitivo no universo escolar. Não depender apenas do trabalho dos clubes. Fomentar a prática do desporto ainda na fase formativa. Fazer a nossa parte, prepararmo-nos para um verdadeiro e transversal projeto desportivo. Como se fez aliás com o projeto do “Senhor Atletismo”, Moniz Pereira, com os resultados que são conhecidos. O resto, as medalhas, virão por arrasto. Ou não virão, mas teremos feito a nossa parte, teremos cumprido os nossos Mínimos Olímpicos.

2- Enquanto não existe um projeto nacional transversal, os clubes e os atletas vão fazendo a sua parte. Nos Jogos Olímpicos de Paris o Vitória apresenta-se com três atletas: João Costa (natação/Portugal); Matthew Lawrence (natação/Moçambique) Mamadou Tounkara (futebol/Mali). O que representa mais uma manifestação não apenas da força das nossas modalidades como sobretudo da verdadeira dimensão social e desportiva deste clube.  Sobretudo por não ser caso único uma vez que atletas do V.Guimarães já tiveram várias participações em anteriores edições dos Jogos Olímpicos, como com Rui Bragança (taekwondo/Portugal), Capucho (futebol/Portugal) e Manuel Mendes (maratona paralímpica/Portugal).

Falando de Guimarães e da sua participação olímpica, suportado pela magnífica peça d’A BOLA sobre os primeiros medalhados portugueses, faço notar que era vimaranense um desses medalhados: Luís Cardoso de Menezes. Neto do célebre Conde de Margaride, Luís Cardoso de Menezes era o único jockey da equipa portuguesa que não era oficial de cavalaria. O seu cavalo “Profond”, emprestado pelo pai do médico vimaranense Dr.Henrique Pereira de Moraes (por quem nutro enorme admiração, hoje com 93 anos), ficou precisamente na sua Casa de Caneiros, na freguesia de Fermentões. Claro que não era atleta do Vitória (que se havia fundado apenas dois anos antes) mas dada a irmanação inquestionável entre este clube e a sua terra, ninguém contestará que nos associemos a esta que foi, só, a primeira medalha de Portugal, logo com a participação de um vimaranense.