Opinião Mercado Total: Renan Lodi por Grimaldo e a eterna questão do guarda-redes do Benfica
Assim que o Benfica fechar por completo o dossier Kökçü – sobre o qual já escrevi nestas páginas – muito provavelmente será o tema do lateral-esquerdo aquele que mais preocupará Rui Costa.
Alejandro Grimaldo tem de ser substituído e há que fazê-lo com alguma pressa para que os encarnados possam encarar com maior tranquilidade o resto da janela de transferências, assumindo um papel mais reativo ou até de maior paciência na procura de potenciais alvos. É que ainda faltará dar profundidade a um grupo de trabalho muito espremido na última temporada: no lado direito da defesa, eventualmente no seu eixo, na baliza e talvez até nos flancos do ataque. Isto mesmo que não haja a venda de elementos nucleares, o que não é um dado adquirido.
Milos Kerkez tinha tudo para, pelo menos a médio prazo, ser um upgrade a Grimaldo. Mais novo, ainda mais enérgico, e mais agressivo nos duelos, embora, obviamente, muito menos experiente. O húngaro era o alvo preferencial (talvez ainda o seja), porém, pelo menos para já, o cenário de vir a vestir a camisola das águias parece longínquo. Foi nesse sentido que surgiu o nome de Jordi Alba, embora o salário proibitivo em Barcelona e a idade avançada o tornassem um investimento arriscado, e hoje seja Renan Lodi quem aparece associado às águias, reativando-se o eixo Madrid-Lisboa bem ativo no passado.
Lodi era considerado, aos 21 anos e ainda no Athletico Paranaense de Tiago Nunes, um dos mais promissores laterais brasileiros. Com mentalidade ofensiva, alicerçada na velocidade, habilidade, capacidade de drible, técnica e controlo de bola, além da eficácia no cruzamento, o jovem foi escolhido pelo Atlético de Madrid para ser o sucessor de Filipe Luís, que regressava em final de contrato ao Brasil para representar o Flamengo. Os colchoneros pagaram 20 milhões, valor acrescido de mais cinco milhões em bónus.
Chamado à atenção por Diego Simeone para as falhas nas prestações defensivas e sempre perto da exaustão física após os exigentes treinos da pré-temporada, o jovem lateral quebra e é expulso por duplo amarelo na estreia diante do Getafe. Todavia, recupera psicologicamente de imediato e assume um lugar no onze no primeiro ano, sendo ainda chamado à seleção brasileira.
É com a mudança de sistema no ano do título (2020-21) para uma linha defensiva com três centrais (e Yannick Carrasco a mostrar-se muito competitivo como ala esquerdo) que é relegado para o banco. A chegada de Reinildo em janeiro de 2022 e o regresso do 4-4-2 empurra-o mais para a frente no terreno. Funciona como defesa-extra sempre que Carrasco precisa de descansar. Sem se conseguir afirmar em definitivo sai por empréstimo para o Nottingham Forest, de Inglaterra.
Lodi tem hoje 25 anos. Soma 16 internacionalizações pelo Brasil e o seu valor de mercado ronda os 20 milhões de euros, tendo desvalorizado para mais metade desde 2020 (50 milhões). Depois de 6 golos e 10 assistências em 118 partidas pelo Atlético Madrid, participou com um remate certeiro e um passe decisivo na campanha dos reds, que garantiram a permanência na Premier League.
O desejo de jogar a Liga dos Campeões afasta-o agora do City Ground – e do Metropolitano, uma vez que Cholo Simeone não conta com o seu contributo apesar de ter contrato até 2026 e Reinildo estar em fase de recuperação de uma lesão grave no joelho – e poderia aproximá-lo da Luz. É, com todos os atributos já referidos e ainda intactos, um jogador diferente de Grimaldo, mais de linha, capaz de acrescentar a largura que a equipa precisa. No futebol português teria certamente um impacto importante.
Vlachodimos e a baliza
O tema é recorrente: o Benfica precisa ou não de um outro guarda-redes?
A resposta é mais simples do que parece: sim, precisa. Nem que seja alguém que possa competir de quase igual para igual pelo lugar com Vlachodimos, e assim garantir que a posição esteja mais protegida para qualquer eventualidade. Depois da renovação de contrato com o guarda-redes menos batido da Liga (e aquele que treinado por Roger Schmidt menos golos sofreu), esse parece ser o plano.
No entanto, há ainda que contar com as fragilidades do grego, não só no controlo da profundidade, mas sobretudo no jogo com os pés. Houve encontros em que foram visíveis, desde logo dois à cabeça: a eliminação diante do SC Braga na Taça de Portugal, em que em inferioridade numérica os encarnados pretendiam atrair a pressão para ultrapassá-la a partir de trás, o que não conseguiram; e a derrota frente ao FC Porto a Luz, em que, com o resto da equipa pressionada, respondeu sempre com pontapés para o vazio quando eram exigidas outras soluções, e assim contribuiu para o crescimento do rival.
Também aqui não será difícil encontrar upgrades ao grego, depois de nomes como Stefan Ortega, hoje no Manchester City e em teoria inacessível, ou Alban Lafont, a entrar no último ano de contrato com o Nantes, já terem sido associados às águias no passado. Faltará perceber que caminho o Benfica quer percorrer, sobretudo com necessidades mais urgentes noutras posições e um orçamento, que se terá reduzido bastante com o investimento em Kökçü, para gerir.
MERCADO TOTAL é uma rubrica de análise ao mercado de transferências do jornalista Luís Mateus.