Martínez na Seleção: os factos às vezes são chatos
Roberto Martínez (IMAGO / HANZA MEDIA)

Martínez na Seleção: os factos às vezes são chatos

OPINIÃO09.09.202411:42

Desde Luiz Felipe Scolari, mesmo com títulos internacionais entretanto ganhos, nenhum selecionador nacional foi especialmente querido pelos portugueses. Martínez é mais um

Talvez seja um sinal dos tempos e da forma ultrarrápida como recebemos informação. Ou da paciência que muita gente ainda tem, nas redes sociais ou via email, para gastar tempo a falar do trabalho dos outros. Ou talvez seja apenas da condição humana.

A verdade é que subsiste a perceção de que Roberto Martínez não é excecionalmente bem-querido pelos portugueses, apesar dos resultados que tem demonstrado, mesmo sem ter sido campeão da Europa como todos achamos que podemos ser quando estamos em modo otimista.

Estou em crer, aliás, que nenhum selecionador, depois de Luiz Felipe Scolari, foi bem-amado pelos portugueses. E mesmo antes é difícil encontrar um consenso — lembremo-nos de António Oliveira, por exemplo.

Carlos Queiroz nunca foi uma figura consensual, e assim permanecerá exceto entre quem percebe o que já tinha feito pelo futebol português no ponto de viragem entre os anos 80 e 90 e o que ainda poderia fazer se alguém quisesse.

Embirrava-se com Paulo Bento pelo penteado com a mesma facilidade com que se dizia que era taticamente conservador.

Fernando Santos foi um engenheiro simpático a quem tão depressa se apontava o mau feitio como o pecado de ser anjinho. Contraditório? As redes que respondam. Foi herói nacional quando venceu os únicos dois títulos da Seleção A, sobretudo o primeiro, e cozido em lume brando nos anos seguintes, porque — imagine-se! — não chegou à final do Campeonato do Mundo nem voltou a ser campeão da Europa.

Martínez fez uma qualificação imaculada para o Euro-2024 e perdeu nos penáltis contra a França nos quartos de final.

E agora apresenta de novo folha limpa, diga-se o que se disser. Se é porque chama Ronaldo é porque chama Ronaldo (gostava de conhecer o primeiro treinador a dizer frontalmente que não o chamaria e não contaria com ele), se aposta em jovens é porque aposta, se não aposta é porque tem receio. Não colocou Geovany Quenda ontem, frente à Escócia? Se calhar não era altura. Pedro Gonçalves e Francisco Trincão merecem oportunidade? Sem dúvida. Mas não confundamos opiniões com factos.

Facto: Portugal é primeiro no seu grupo da Liga das Nações, com duas vitórias em dois jogos. E com dois golos de Cristiano Ronaldo, já agora.