André Villas-Boas na apresentação de Martín Anselmi. Foto: Grafislab
André Villas-Boas na apresentação de Martín Anselmi. Foto: Grafislab

Martín Anselmi: falar assim não é... tango

OPINIÃO28.01.202507:30

Novo treinador portista tem uma missão muito difícil pela frente, mas boa comunicação faz parecê-la mais fácil. O trabalho ainda agora começou, mas já dá para ter uma ideia do que ele quer fazer

Martín Anselmi foi apresentado ontem como novo treinador do FC Porto e fez uma declaração pública de amor ao antigo clube, Cruz Azul, apesar da saída atribulada do México. Numa altura em que muitos o criticam por lá, fica bem ao argentino fechar esse capítulo apelando ao coração dos adeptos. Mostra, pelo menos, que tem mais consideração por eles do que pelos bastidores que o expuseram à polémica nos últimos dias.

Parece óbvio que Martín Anselmi não podia resistir ao convite de André Villas-Boas. O salto para a Europa é de gigante e não terá sido por acaso que o evento ocorreu no museu: as imponentes conquistas europeias do FC Porto estavam lá, para que o jovem técnico sinta esse peso e, ao mesmo tempo, esse privilégio. Mas a semiótica não faz tudo, era preciso começar a sair das trevas com alguma... fé.

Os azuis e brancos vivem uma crise sem precedentes, e não falo só de resultados. O empate com o Santa Clara foi mau para quem queria subir na tabela, mas pior do que isso é ver jogadores como Galeno a falhar dois penáltis. A confiança está arrasada e, num grupo muito jovem e sem referências, a identidade portista perdeu-se. O FC Porto de Vítor Bruno (e por uns dias de José Tavares) tornou-se uma equipa irreconhecível, mas previsível nos seus erros, falta de crença e desnorte.

Claro que nem tudo se explica assim, porque aquele golo dos açorianos também demonstra evidentes falhas técnicas, de treino, o que lhe quiserem chamar. Resumindo, este FC Porto é uma mistura de vazio emocional e défice de qualidade, e o que retirei da apresentação de Martín Anselmi é que ele está disposto precisamente a atacar essas duas frentes.

Não sei se o sotaque de Buenos Aires ajuda, mas o novo treinador foi simples mas eficaz a explicar o que será o seu sistema e o que quer retirar dos jogadores. Escolheu «paixão» e «trabalho» como elos de ligação que já tem com os portistas e não acredito que seja por acaso que as duas respondem ao tal vazio emocional e défice de qualidade. Ele bem quis deixar o diagnóstico do momento para depois, mas parece-me que está claramente feito.

Agora, como sempre, tudo dependerá do penálti falhado ou não, da bola que entra ou acerta no poste. Será isso a decidir se o risco envolvido na escolha de Martín Anselmi compensou ou não, mas creio que os adeptos que viram a apresentação ficaram mais esclarecidos, convencidos e crentes do que estavam antes. Paixão e trabalho serão importantes, mas as palavras também contam muito.