Márquez vai pulverizar todos os recordes

OPINIÃO11.10.201904:00

Somos todos de 2019

Não sei se já todos nós tomámos em devida conta o facto de estarmos a viver um espectacular fenómeno, daqueles de que só mesmo a matemática é capaz. Ou seja, indo directamente ao cerne da questão: por uma vez na vida temos todos a mesma idade. Não, não é brincadeira nenhuma. Basta cada um fazer o teste consigo próprio e depois com quem mais entender e uma coisa é certa: a resposta será sempre igual - mas também sempre, infalivelmente, verdadeira. Vejamos então: basta somar a idade actual de cada qual ao seu ano de nascimento. O resultado será sempre, necessariamente, igual. Ou seja, o do corrente ano: 2019! Por isso se disse que, por uma vez na vida de todos e cada um dos mais de oito mil milhões de pessoas que compõem a população humana, este ano somos todos da mesma idade. Mas o que sucederá então para o próximo ano? Ora, nada de especial, bastará mudar o resultado para 2020…

Márquez, Quartararo& os outros

TAos 26 anos, o catalão Marc Márquez acaba de conquistar o seu oitavo ceptro mundial (sexto em Moto GP). E, como será óbvio, não levará muito mais tempo até pulverizar todas as estatísticas de recordes ainda por bater, nomeadamente as referentes ao mítico Valentino Rossi, Il Dottore, que insiste em continuar no circo, pese embora a sua condição de quarentão. Acompanho a carreira de ambos desde a respectiva estreia no meio. Qual o melhor? Para mim, o n.º 1, o verdadeiro primus inter pares, continua a ser o australiano pentacampeão, o indestrutível Michael Doohan. E quanto ao futuro, quem sucederá a Márquez? Aposto as fichas todas no rookie gaulês Fabio Quartararo, que já merecia ter conquistado o primeiro triunfo neste ano de estreia na competição com os maiores. Mas o campeonato ainda não acabou. Seja como for, o futuro é dele. Fim de ilusões alheias.

Os ‘time out’ ou a retórica da vacuidade

OS tempos do futebol são normalmente polémicos. Ou é por causa do chamado tempo de descontos, ou é pelas demoras e interrupções constantes, ou pelos atrasos propositados, enfim, aquilo que todos sabemos. E, todavia, sendo um jogo que formalmente demora mais do que qualquer outra modalidade colectiva de que me lembre, não contempla as pausas a pedido das próprias equipas, vulgarmente conhecidas como time out, as quais são correntes em disciplinas como o basquetebol, ou o voleibol, ou o andebol. Ora bem, quando tal pedido surge, uma de duas coisas sucede: i) ou ocorre, por exemplo num jogo da NBA, muito perto - por vezes, a uns meros segundos - do fim do jogo, caso em que o time out servirá para indicar pormenorizadamente o modus faciendi para conseguir marcar (aquilo a que se usa denominar como jogada estudada): ii) ou é requerida quando as coisas não estão a correr bem, qualquer que seja o tempo de jogo, já disputado ou ainda por vir. Como eu, estou em crer que a maioria dos espectadores se interrogava sobre que palavras de tão transcendental importância seriam aquelas susceptíveis de virar o curso do devir do jogo. Pois bem, de há umas épocas para cá, tudo mudou. Porquê? Porque os desafios mais importantes passaram a ser transmitidos na televisão e, ainda mais, porque estas ousaram perfurar aquele círculo que se supunha impenetrável, o mais sagrado de entre todos, logo depois do sacrossanto Balneário, a saber, o banco onde se sentam o técnico, os seus adjuntos, os suplentes, o médico, o enfermeiro e o director. E é então que irrompe o processo de dessacralização, para não dizer já de profanação, do mito. Efectivamente, agora são bem audíveis as vozes inspiradoras como oráculos. Pérolas são então reveladas, como peças de oratória de uma retórica mecânica que tudo move, promove ou remove, qual profeta que ordena aos rios e aos montes que se abram  - e logo se abrem todos, uns e outros, como se fossem parte de algum leque mágico. E tais palavras de culto são estas: «Vamos lá pessoal, bora!», «atenção às jogadas deles», «marca aquele gajo bem em cima», «concentração na defesa», «temos de evitar os erros» e outras sapiências do género. É pena, mas não dá tempo para mais.
Agora - porque, repete-se, o futebol não contempla a figura do time out - o que eu gostava mesmo era de ouvir as famigeradas palestras dos grandes místeres.

Entrevista imaginária

- Fulano é muito bom de cabeça, não acha?
- Por acaso até acho que há outros elementos do colectivo que são mais inteligentes a jogar…
- Mas, lá está, insisto: nenhum é tão bom cabeceador!
- Ah, é dessa cabeça que está a falar…
- Sim, mas em compensação já Cicrano não sobe tão bem no terreno…
- Claro, porque as ordens que tem (e dadas por mim, atenção) são exactamente no sentido inverso, ou seja, para descer no relvado.
- Agora fico eu com uma dúvida existencial. Qual a diferença entre subir e descer se o campo de jogo tem de ser absolutamente horizontal, isto é, plano?
- Está a falar de quê? Um de nós deve ter tropeçado no caminho…