Luta e luto

OPINIÃO11.04.202107:00

Para nós benfiquistas são, nos últimos cinco jogos, 15 golos marcados e cinco sofridos! vamos ter luta e estar na luta

As diferentes lutas na Liga NOS vão dominar estas derradeiras jornadas. Ontem em Paços de Ferreira, independentemente da expulsão, o Benfica fez um jogo competente e com qualidade. Seferovic fez um grande jogo e a equipa mostra espírito coletivo, vontade de vencer e uma segurança defensiva que a torna uma referência nas ligas da Europa. Darwin voltou aos golos e o menino emocionou-se. Acredito que este renovado Benfica vai continuar a marcar e a não sofrer. E em Tondela o Porto, em necessária gestão face ao complexo desafio na Liga dos Campeões, conquistou os três pontos e mantém a luta renhida pelo acesso direto à fase de grupos da Liga que dá milhões! Para nós benfiquistas são, nos últimos jogos, quinze golos marcados e nenhum sofrido! Vamos ter luta e estar na luta!

Boas notícias, diria que grandes, nos chegam da UEFA no que respeita ao regresso dos adeptos aos estádios de futebol. Nós que somos a alma desta modalidade que se tornou uma grande indústria. Para já, e como anunciou a organização europeia do futebol, o Euro-2021 (em rigor o Euro-2020 adiado um ano!) vai contar com público em oito estádios. Em Budapeste, linda cidade onde Portugal defrontará a seleção local (Hungria) e a França, o Estádio poderá ter a lotação máxima, ou seja, 100%! E nos outros estádios anunciados - nas cidades de Amesterdão, Bucareste, Copenhaga, Glasgow, Londres, São Petersburgo  e Baku - a respetiva lotação variará entre os 25% e os 50º%! Assim a dúvida centra-se em quatro cidades-sede - Bilbao, Dublin, Roma e Munique -, que terão até ao próximo dia 19 para decidirem se permitem público. Pelo que se antevê, se não permitirem público serão substituídas por outras cidades, o que evidencia, pela primeira vez nos últimos largos meses a supremacia da decisão desportiva em relação à plena autoridade dos Estados. O que não deixa de ser bem significante e pode evidenciar um primeiro momento de resistência e afirmação desportivas em relação a cautelas significantes por parte das autoridades sanitário-politicas dos Estados! Sim o Europeu de 2021 será, porventura, o primeiro evento relevante em que se sentirá, salvo emergentes circunstâncias bem extraordinárias, o regresso a uma certa normalidade. Por mim reservei o dia 15 de junho para regressar a um estádio (Budapeste) - com lotação para perto de setenta e mil adeptas e adeptos -, cantar com intensa alegria, e com máscara, o Hino de Portugal, vibrar imenso com a nossa seleção e, no final e afinal, abertamente sorrir com a vitória da equipa liderada por Fernando Santos. Sim eu quero lá estar! 

Na passada quinta-feira, quase bem perto das dez da noite, a partir da atrativa cidade espanhola de Granada - bem perto da Serra Nevada e com a extraordinária obra de arquitetura que é a Alhambra a merecer uma cuidada e profunda visita! -, retive uma imagem que tem de ser uma das  expressões, bem positivas, do futebol português. Nessa imagem estavam três portugueses ligados ao futebol: dois jogadores e um árbitro. Sim, os olhares tocavam-se. O português foi decerto a língua de comunicação e de advertência para o cumprimento das especificas leis do jogo. Na baliza do Granada, e  na sua linha de baliza, o Rui Silva. Com a bola, bem acariciada, e a partir da marca da grande penalidade, e sem grande balanço, Bruno Fernandes marcou o segundo golo do Manchester  United, confirmando-se como o marcador de referência dos red devils! E, bem próximo, olhando para a movimentação do Rui Silva e para a sagacidade do Bruno Fernandes, estava o árbitro - mais toda a sua portuguesa equipa, incluindo no VAR! - designado pela UEFA, o Artur Soares Dias. Este momento, que a minha memória registou, é um marco da excelência do nosso futebol e dos seus diferentes e competentes atores. Ali em Granada, jogadores (também o defesa Domingos Duarte ) e equipa de arbitragem. Em Amesterdão, à mesma hora, Paulo Fonseca (e também Tiago Pinto) sorria de alegria com a vitória frente ao Ajax. E sabendo nós, desde Sófocles, há tantos e tantos séculos, que «o êxito depende do esforço»! Depende mesmo! Mesmo que por cá, por vezes, não se evidencie e aplauda! 

Permitam-me uma referência a dois grandes Senhores da Beira Alta que nos deixaram nos últimos dias: Almeida Henriques e Jorge Coelho. Aprendi com o saudoso Senhor meu Pai que «no mesmo berço se nasce e se morre»!  E sejam  «os corregos do Dão, os alcantins do Caramulo ou o encantador Vale do Vouga» a Beira, e em particular a sua Beira Alta, é, na linguagem de António José de Almeida, «o coração de Portugal»! Ali, a partir da cidade de Viseu - minha raiz e minha âncora e também a cidade que os viu nascer -, crescemos a sentir a energia inteligente e indomável que marca o espírito de um verdadeiro beirão. E Almeida Henriques - o António, como minha Querida Irmã sempre o identificava com o carinho de terem sido colegas de Liceu! - e Jorge Coelho - o Dr. Jorge como minha Saudosa Mãe proclamava, ela que partilhara largos momentos com a Querida Mãe do Dr. Jorge Coelho - eram beirões de alma, fidalgos de trato, amigos dos seus amigos, competentes nas suas diferentes e diferenciadas funções, excelentes na forma como sentiam o seu torrão natal e tudo fizeram, mesmo tudo, até ao último suspiro de uma vida vivida, para fazer prosperar e engrandecer a terra que lhes foi berço. Sim, a vida de ambos foi , na sua múltipla essência, arte e beleza, partilha e simpatia, confronto e encontro, generosidade e liberdade, disponibilidade e vontade, talento e trabalho. Perdi, para além das diferenças desportivas e, até, políticas, dois Amigos. Em particular o António Almeida Henriques, também o Quim, as suas confissões e os seus desabafos, os desafios para Viseu 2025, o carinho pelo desporto e, em particular, pelo Académico de Viseu. A Beira Alta perdeu dois grandes Homens, dois Pais exemplares, dois Maridos dedicados, dois Amigos que transformaram, e muito, condições de existência a outras e outros beirões. E no momento em que ambos se despediam recordei, no meu silêncio e com os olhos húmidos,  a reprodução da aldeia ideal que o Balzac criou. Fosse ela Abravezes ou Santiago de Cassurrães (Contenças). E para ambos, para ambos mesmo, com sentidos pêsames a suas Queridas Famílias, são bem verdadeiras as palavras de José Marti: «A morte é uma vitória, e quando se viveu bem o caixão é um arco de triunfo!» Foi mesmo!