Liga (quase) fechada
Com o empate de ontem a luta pelo acesso direto e indireto à Liga dos Campeões fica em aberto. Benfica tem um março determinante
Com o empate de ontem o Sporting tem a Liga quase fechada. Foi um empate com sabor a vitória para a equipa bem liderada por Rúben Amorim. Foi um jogo muito tático, as duas equipas encaixaram uma na outra. Com o empate de ontem Benfica e Sporting de Braga podem aproximar -se do Futebol Clube do Porto. A luta pelo acesso direto e indireto à fase de grupos da Liga dos Campeões vai ser renhida, muito renhida. O Benfica tem um março decisivo. Tem três jogos em Lisboa e em Oeiras e tem no final do mês uma final em Braga. Se conquistar em março doze pontos pode ambicionar a Liga dos Campeões na próxima época. E bem precisa dos milhões da liga dos milhões. Amanhã face ao Rio Ave arranca, no dia seguinte ao aniversário, o março decisivo. Para o Benfica e para Jorge Jesus.
Há precisamente 117 anos nasceu o Sport Lisboa , que viria a ser a essência do Sport Lisboa e Benfica. Da Farmácia Franco - que teve muitos vidros partidos! - até aos terrenos que são hoje, ainda com brasões, a Praça do Império, e passando pelo então terreno público que hoje é, em azul pintado, as Salésias - que na escrita de Júlio de Araújo se assume que «foi ali que o futebol se enraizou e de onde germinou para toda a Província e até para todo o País»! - são largas dezenas de anos de uma intensa e fraterna história associativa, de um rico ecletismo, de centenas de títulos e troféus, de diferentes complexos desportivos e de múltiplos momentos de prazer e de alguns instantes de dor. E hoje mesmo milhares de benfiquistas estariam a receber, se não fosse esta pandemia que não nos larga, e com orgulho e honra, os seus emblemas de dedicação, símbolos de uma contínua entrega, de uma permanente dedicação e de uma sentida felicidade. E a felicidade, em si mesma, « é qualquer coisa que depende mais de nós mesmos»! E é este sentimento que me marca como benfiquista! Mas também aprendemos com Kafka que a verdade é «uma das poucas coisas verdadeiramente grandiosas e preciosas nesta vida»! E , neste tempo de outro singular aniversário, importa repetir que «não há grandeza onde não há verdade»! O Benfica é grande pelos títulos conquistados mas também pela verdade nua, mesmo que dura, que o identifica de forma singular no conjunto do tecido associativo desportivo e popular português. O Benfica é referência pela imensidão dos seus adeptos e simpatizantes mas também pela forma com eles se exprimem em liberdade em cada momento eleitoral ou em qualquer instante formal de indignação. Como aconteceu em diferentes Assembleias Gerais em que, por exemplo, fui cuspido e ameaçado por benfiquistas que, tal como eu, sentiam, se bem que com um fervor e paixão bem diferentes, o «nosso comum Benfica»! O Benfica é vontade e é resistência mesmo que, por vezes, seja preciso ter resignação em relação a determinados comportamentos e atitudes e , em outras circunstâncias, tenhamos que ser exigentes na evidência e transparência de ações e, igualmente, na não tolerância de certas omissões. O Benfica é, ainda, uma comunidade plural em que só uma consciente combinação entre o eu e o tu dá , de verdade, o nós, e, logo, em que a responsável e necessária partilha de responsabilidades não se conjuga com momentos, sempre bem fugazes, em que a culpa morre solteira ou se alia, por urgência semântica justificativa e sem absoluta evidência, com uma bolha espinhosa que nos atormenta e condiciona. Mas, por excelência, o Benfica é solidariedade e fraternidade como milhares concretizaram, com fervor clubístico, na já por muitos esquecida - e por alguns ignorada - Operação Coração, e que outros, no absoluto silêncio da sua imensa paixão ao clube, generosamente doaram permitindo que modalidades não se extinguissem e, apesar das tremendas dificuldades, continuassem a ser um marco de referência no ecletismo do clube. E, aqui, sei bem do que falo e numa semana em que a família do andebol, unida de forma única, viu partir, num ápice, um dos grandes nomes do andebol contemporâneo: Alfredo Quintana. E, aqui, e olhando para o dia de amanhã, são bem verdadeiras as palavras do também cubano José Marti: «A morte é uma vitória, e quando se viveu bem o caixão é um arco do triunfo.»
Esta semana fica marcada pela interferência, que se enaltece vivamente, do nosso poder político no mundo do futebol. Na verdade, se a pandemia, e as suas restrições, mostram que o denominado auto-governo do desporto submergiu com os diferentes momentos de emergência - entre nós identificados constitucionalmente como estado de emergência - também é inequívoco que, se em outros modelos de futebol foram os clubes - SADs - que moldaram a centralização dos direitos televisivos, por cá o Governo, repito, e bem, acaba de anunciar que aprovou a comercialização centralizada dos direitos televisivos e multimédia dos jogos de futebol das primeira e segunda ligas até à época 2028/2029 e salvaguardando, naturalmente, os efeitos dos contratos em vigor. Contratos estes que já possibilitaram, em alguns casos, substanciais antecipações de receitas! Esta decisão do Governo é, de verdade, uma revolução, diria que anunciada. Mudam-se os papéis. E acredito que em alguns casos vão mudar os autores desta mudança. Que, de verdade, é mudança mas é também progresso. Sendo certo, desde que escutámos Martin Luther King, que «todo o progresso é precário e a solução para um problema coloca-nos diante de outro problema»! Sei do que falo já que quando se criou o regime jurídico das federações desportivas dotadas de utilidade pública desportiva, e neles a Liga de clubes -, sob a designação de organismo autónomo! - quem era contra… passado pouco tempo assumia, mesmo que a título informal, a liderança do organismo autónomo! É sempre o problema das duas engrenagens! E elas irão surgir, acreditem nestas matérias e no modelo de transição. Este modelo, tal como no concreto da nossa Liga, irá do tudo fechado ao tudo quase em aberto!