La Cumparsita
Sebasitán Coates na festa do título. Central ruma ao Uruguai, para jogar no Nacional. IMAGO

La Cumparsita

OPINIÃO11.07.202412:00

Quando Sebastián Coates regressar ao Uruguai, talvez volte à Fuente de Los Candados em busca de um cadeado com as suas iniciais e as do Nacional Montevideu. E aproveite para colocar um novo cadeado,m agora com as iniciais SC e SCP.

Quando Sebastián Coates aterrar no Aeroporto Carrasco, em Montevideu, no regresso a casa para jogar no Nacional, talvez sonhe ter à sua espera Malena Muyala a cantar La Cumparsita.

Si supieras que aún dentro de mi alma

Conservo aquel cariño que tuve para ti

Quién sabe si supieras que nunca te he olvidado

Volviendo a tu pasado, te acordarás de mí

Há 13 anos, Coates partia do mesmo aeroporto rumo a Liverpool. Tinha apenas 20 anos e praticamente a mesma idade e os mesmos sonhos do também uruguaio Gerardo Matos Rodríguez (1897-1948), que em 1917 escreveu La Cumparsita, o considerado mais famoso tango da história. Peça de arte musical que é central, também, na rivalidade histórica entre Montevideu e Buenos Aires sobre a nacionalidade e, no fundo, paternidade do tango.

Quando Sebastián Coates aterrar no Aeroporto Carrasco, em Montevideu, no regresso a casa para jogar no Nacional, talvez queira passar pela Avenida 18 de Julho e parar na Fuente de los Candados em busca do cadeado que aos 20 anos talvez ali tenha deixado com as iniciais de Sebastián Coates e Nacional Montevideo, clube de formação e que o lançou. Segundo a placa colocada junto à fonte, «se um cadeado for colocado com as iniciais de duas pessoas que se amam, eles voltarão juntos para visitá-lo e o seu amor viverá para sempre». E seguramente que colocará um outro cadeado com as iniciais SC e SCP…

Quando Sebastián Coates aterrar no Aeroporto Carrasco, em Montevideu, no regresso a casa para jogar no Nacional, já sabe o significa saudade e talvez sinta o coração um pouco apertado por ter deixado para trás oito épocas e meia de Sporting, onde foi feliz, ganhou oito títulos e um lugar na história leonina, a começar por ser o jogador estrangeiro com mais jogos de leão ao peito.

Quando Sebastián Coates aterrar no Aeroporto Carrasco, em Montevideu, no regresso a casa para jogar no Nacional, saberá também que o Sporting é um eterno «até já» para quem afirma «serei sempre Leão» e garante que «o maior legado» que deixa «é ter filhos sportinguistas». E saberá a imagem que dele têm não só os adeptos leoninos mas também os dos clubes rivais. Se tiver que resumir o que sinto por Coates numa única palavra, terei de usar a palavra «Respeito». Respeito pela sua personalidade, pela carreira, pela dedicação, pela liderança discreta mas tremendamente eficaz, pela simpatia, pela fidelidade ao futebol e ao Sporting e respeito pelo respeito que sempre demonstrou por Portugal.

Não é importante a razão para querer voltar ao Uruguai. Nem os sportinguistas têm de ficar desiludidos por verem partir uma das suas figuras. A quem deu tanto ao Sporting e ao futebol em Portugal, as decisões não se questionam, apenas se respeitam. Coates conquistou esse direito. E será esse respeito, sem perguntas, que os adeptos vão poder demonstrar quando Coates vestir a camisola do Sporting pela última vez como jogador, no Troféu Cinco Violinos, frente ao Athletic Bilbao, jogo que está agendado para o próximo dia 27 de julho.

Quando Sebastián Coates aterrar no Aeroporto Carrasco, em Montevideu, no regresso a casa para jogar no Nacional, talvez se dirija ao centro histórico e se sente à mesa para comer o Chivito, bem regado por um tinto da Adega Pizzorno, que o Uruguai também se orgulha dos seus bons vinhos. Com o Teatro Solis no horizonte, talvez se volte a lembrar de La Cumparsita, ou da Despedida, que o fado é frequentemente visita de honra do Teatro Solis e outros locais de Montevideu.  E imaginará Camané a cantar:

«Por serem tantas as saudades

Eu dou saudades a alguém

para ter saudades de mim»