Kika Nazareth pôs o dedo na ferida
João Neves e Kika Nazareth. Foto: D.R.

Kika Nazareth pôs o dedo na ferida

OPINIÃO10.08.202408:00

João Neves não falou sobre a mudança para Paris, de modo a expor os seus argumentos. Nem precisou. Kika Nazareth falou por ele

Ninguém duvida, creio eu, que Kika Nazareth gosta do Benfica. Ou melhor, que gosta mesmo muito do Benfica. Provam-nos as imagens em pequenina, os festejos já adulta, até algumas declarações precipitadas, originadas numa juventude mediática a partir do momento em que se tornou símbolo do futebol encarnado. E sim, sem o feminino a acompanhar, porque, se bem se recordam, até houve uma altura em que se brincou que a internacional portuguesa podia muito bem jogar pela equipa masculina.

Kika Nazareth não será a primeira futebolista portuguesa a jogar no estrangeiro. Felizmente, sobretudo para elas, já houve jogadoras que conseguiram entrar nas principais ligas do mundo.

A questão é que o futebol feminino cresceu no mediatismo. Só quem andou distraído é que achou que isto não ia acontecer. E vai continuar a suceder, com a entrada do FC Porto, o trabalho dos clubes e, já agora, da Federação. Quando oiço ou leio que tudo é melhor noutros lados, acho mesmo que isso é relativo, para dizer que não é bem assim ou em muitos casos, sequer, verdade: a questão é que os outros são maiores, levam anos de avanço e, portanto, queremos chegar a eles, mas temos de acreditar na estratégia.

As transferências, de cá para fora, e de fora para cá, têm tido atividade, os valores começam a ter relevância e não há quem não queira ter a liga feminina no seu canal.

Desculpem o desvio, mas há coisas que para mim têm de ser ditas. E das coisas que disse, dizia eu que o futebol feminino cresceu em mediatismo, a seleção portuguesa começou a ter resultados, o Benfica também (ajudou muito ter rivais como o Sporting e o SC Braga) e de repente há uma jogadora cuja saída do clube quase provoca tanto barulho como a do amigo João Neves.

O médio do PSG não falou sobre a mudança da Luz para a Cidade Luz, de modo a expor os seus argumentos. Nem precisou. Kika Nazareth falou por ele. «O Benfica é o meu amor, mas procurava o melhor para a minha carreira.»

A internacional portuguesa pôs o dedo na ferida. O problema, meus caros, não é do futebol masculino ou feminino, nem da Liga Portugal ou da Liga Feminina. Nem sequer é do Benfica.

É mesmo de um país em que um terço dos seus jovens emigra — é só pesquisar e ver quem nos acompanha nesta métrica. Enquanto isso não se resolver, ninguém se iluda, não há amor por um clube que aguente.

Kika Nazareth pôs o dedo na ferida. A ferida é que não é bem aquela que se pensa...