Kepler (futebol) Laveran de Lima Ferreira

OPINIÃO10.08.202409:45

Ou simplesmente, Pepe

O defesa-central de 41 anos anunciou na quinta-feira o ponto final na carreira. Foram 23 anos a competir ao mais alto nível, com uma longevidade acompanhada de uma qualidade que encontram pouco paralelo. Jogou no Corinthians, no Marítimo, no FC Porto, no Real Madrid, no Besiktas, novamente no FC Porto e pela Seleção de Portugal; 895 jogos, 51 golos marcados. Conquistou 29 títulos, entre eles o de campeão europeu em 2016. Disse adeus esta semana, de forma muito emotiva, como ele também o foi ao longo de todo este trajeto.

Será difícil encontrar alguém que não concorde que Pepe é (foi) um enormíssimo jogador

Há certamente quem não goste do seu estilo provocador em campo, da impetuosidade que não raras vezes ultrapassou limites e lhe trouxe dissabores e episódios muito infelizes, mas, ao mesmo tempo, será difícil encontrar alguém que não concorde que Pepe é (foi) um enormíssimo jogador, um defesa-central dos melhores do mundo, que prolongou além do que parecia possível a capacidade de jogar bem, de jogar muito bem, e ao mesmo tempo saber liderar com personalidade em campo, e fora dele, um plantel. Até mesmo uma seleção, porque a Seleção Nacional teve e tem muitos líderes, mas Pepe foi sem dúvida um deles.

No FC Porto dos últimos anos, Pepe foi o coração

No FC Porto dos últimos anos, Pepe foi o coração. Houve sempre cabeça, tronco, pernas, pés, artistas, velocistas, equilibristas, mas o coração era Pepe. E quando ele faltou, a equipa não foi a mesma. Naturalmente que o FC Porto não se esgota e continuará a ser feliz sem Pepe, como o Sporting sem Coates, ou o Benfica quando perder Otamendi, mas toda a equipa precisa de um coração que lhe bombeie o sangue. Toda a equipa gostaria de ter um Pepe, mas pepes não aparecem do nada, não saltam de baixo das pedras. Também por isso, entendo que Pepe mereceria uma despedida com outro brilho e não anunciada só pelo próprio, num vídeo em que ele aparece sozinho, somente na companhia das taças que conquistou.

Não estou aqui a criticar o FC Porto ou a nova gestão de André Villas-Boas, presidente dos dragões, que tomou e continua a tomar as decisões que entende serem as melhores para recolocar em navegação o barco. E também, claro, de todos os quadrantes chegaram mensagens de agradecimento e de enaltecimento a Pepe… mas a verdade, nua e crua, é que um dos maiores jogadores da história do futebol português e europeu subiu sozinho a este palco difícil do anúncio de fecho de capítulo; na verdade, de final de romance.

Pepe despertou emoções de todo o tipo, foi uma referência nos relvados e, fora dele, de uma correção e profissionalismo inatacáveis. Pepe foi futebol, é igual falarmos de um e de outro porque os dois se confundem.

Obrigado e até já.