Não façam Deus rir
Festa do Brasil após ter conquistado o Mundial-1994 (Foto Imago)

Não façam Deus rir

OPINIÃO27.07.202410:10

Os 30 anos do tetra, o penúltimo Mundial ganho pelo Brasil, foram celebrados por estes dias, com documentários e homenagens, que deviam dar que pensar à torcida brasileira - JAM Sessions, o espaço de opinião de João Almeida Moreira

A imagem de Raí, capitão do Brasil, a levantar e a beijar a taça de campeão do mundo, logo após o apito final do Mundial de 1994 dos Estados Unidos, sob o olhar dos titulares Ricardo Gomes, Ricardo Rocha, Muller e Careca, este último a viver um final de carreira de sonho, foi vista por espectadores do mundo inteiro, incluindo Carlos Alberto Parreira, na televisão da casa dele.

O que está errado no parágrafo acima? Tudo.

Raí, acabado de conquistar o campeonato francês pelo Paris Saint-Germain (numa altura em que isso não era tão comum), para onde se transferira depois de, nos anos anteriores, ter sido a estrela de um São Paulo campeão do Brasil, da Libertadores e da Intercontinental, perdeu, por razões de equilíbrio tático, a titularidade para Mazinho e, na sequência, a braçadeira para Dunga, a meio do Mundial.

Já a lenda benfiquista Ricardo Gomes, que até era o capitão antes de Raí, lesionou-se às vésperas da competição, o que o impediu de compor, ao lado de Ricardo Rocha, com fugaz passagem pelo Sporting, a dupla de centrais dos canarinhos. Rocha, aliás, também se lesionou, mas já na estreia em solo yankee, com a Rússia. Por isso, o duo de zagueiros titular do tetra brasileiro juntou as terceiras escolhas Márcio Santos e Aldair (outro ex-Benfica).

Muller, por sua vez, perdeu, no último encontro das eliminatórias para o Mundial, a titularidade para o rival Romário, que se consagraria melhor jogador do torneio, ao lado do amigo Bebeto, que ocuparia a vaga de um Careca já a dar sinais de decadência, e, por isso, nem sequer foi convocado por Parreira.

O mesmo Parreira que viu, in loco e não pela TV, Dunga levantar a taça, ao lado de Mazinho, Aldair, Márcio Santos, Romário e Bebeto, porque a sua anunciada demissão, a meio da atribulada fase de qualificação, foi abortada à última hora por iniciativa do leal grupo de jogadores que comandava.

Os 30 anos do tetra, o penúltimo Mundial ganho pelo Brasil, foram celebrados por estes dias, com documentários e homenagens, que deviam dar que pensar à torcida brasileira porque a situação da seleção à época lembra a situação da seleção atual: 24 anos de abstinência de título mundial.

E porque provam que não adiantam nada as intermináveis especulações sobre se Dorival é o homem certo, se Neymar deve voltar mesmo jogando nas arábias, se Endrick e até Estêvão devem ser lançados desde já no onze para ganhar calo, se Danilo está cansado, se o trio de médios deve ser o da Copa América e tantos outros detalhes antes do próximo Mundial, por acaso, outra vez nos EUA.

No futebol, como na vida, nem tudo sai como planeado: como terá dito o cineasta daquele país Woody Allen, «quer fazer Deus rir? Conte-lhe os seus planos». 

 

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