Já paravam com os tiros nos pés

OPINIÃO14.02.202206:00

O que se passou no Dragão aproxima Portugal do «terceiro mundo» do futebol

BLÁ-BLÁ-BLÁ centralização dos direitos televisivos, blá-blá-blá país do campeão da Europa, blá-blá-blá berço de Cristiano Ronaldo e Luís Figo. O potencial é enorme, cada vez maior, porém Portugal continua a falhar no básico e no óbvio. É que de nada vale partir um mealheiro vazio. De nada vale discutir a divisão equitativa de receitas e esperar que esta resolva os graves problemas cá do burgo, se não se consegue engrandecer ou, no mínimo, proteger o produto. Quando devíamos estar a exportar para todo o lado o grande golo coletivo do Sporting para o 0-2 ou o belo cabeceamento de Taremi no empate, é a briga de rua em pleno relvado do Dragão que atravessa fronteiras, ocupa espaço nos noticiários e faz manchetes nos principais jornais estrangeiros.  Mais do que uma vergonha enorme para toda a nação, é, sobretudo, um tiro nos próprios pés. É uma vergonha que nos equipara ao terceiro mundo do futebol e nos distancia das Big-5, apesar de alguns maus exemplos recentes em França.
A questão não pode ser agora encontrar culpados, nem que seja por haver poucos inocentes, e sim olhar para dentro, para que se perceba definitivamente por que continuamos a ter de viver num estado de guerra civil sempre que há jogos entre as maiores equipas (e, por vezes, nem isso). Proteger o produto é muito mais do que avançar para ações de promoção, que só vão mascarar os problemas. É necessário atuar nas raízes do jogo em Portugal. Criar um sistema de justiça cego, implacável e eficiente, que erradique a sensação de impunidade. Incentivar o público a confiar de novo  e a voltar aos estádios, o que só engrandecerá o espetáculo. E continuar a lutar, semana após semana, pelo fair-play. Já é a altura de os dirigentes da Liga e da Federação deixarem de ser politicamente corretos, arregaçarem as mangas e sujarem por fim as mãos.