Opinião Incêndios: desculpem mas não consigo falar de outra coisa

OPINIÃO18.09.202411:00

O Sporting ganhou e há temas interessantes para debater no desporto, mas que interessa isso perante o flagelo por que o País passa de novo? Que o desporto faça o seu papel. Pouco pode ser muito

Provavelmente devia escrever sobre a Liga dos Campeões, que até saiu bem a Portugal, na primeira rodada, com a vitória do Sporting sobre o Lille.

Tinha pensado, porém, dedicar este espaço a algumas decisões iminentes na UEFA, que vão deixar na mão dos clubes de primeira divisão, em cada país, a possibilidade de dispensarem ou não aos da segunda alguma esmola dos dinheiros das competições europeias.

Mas o país está a arder, e desta vez infelizmente não se trata de uma figura de estilo. Devíamos, aliás, fazer um ato de penitência neste mundo do futebolzinho e dos outros desportos de cada vez que utilizamos expressões bélicas para falar de simples jogos. Sejam elas relacionadas com fogo, com guerras, com enxurradas ou com qualquer outro fenómeno que nos surja como boa imagem em determinado momento. Mais cedo ou mais tarde, vai revelar-se de mau gosto. Estamos sempre a aprender, essa é que é a verdade. Utilizei inúmeras vezes estas muletas. Hoje lamento-as todas.

Há pessoas em risco, casas ardidas, floresta para sempre perdida, vidas inteiras, conquistas de uma vida, destroçadas pelas chamas. Bombeiros a morrer, casas a cair em direto na TV (também podíamos falar um pouco sobre isto, mas fica para mais tarde).

Não vale a pena ir pela conversa populista de que «já em 2017 foi o que foi, se não acautelaram foi porque não quiseram». Muita coisa foi feita desde então, aprendemos com erros e tentámos melhorar. Não acredito que alguém em funções de responsabilidade consiga negligenciar a possibilidade de ocorrerem catástrofes como esta.

A verdade é que elas ocorrem. Em Portugal morre-se pelo calor e na Roménia e na Chéquia morre-se por inundações. Ao mesmo tempo. No fim do verão. Enquanto acreditarmos em demagogias baratas e negacionismos, e não percebermos o que estamos a fazer ao planeta, será muito difícil inverter a situação.

Países altamente evoluídos, e vamos diretos aos Estados Unidos, não têm menores dificuldades no combate aos fogos da Califórnia ou às cheias na Florida.

Não está sempre «tudo mal» em quem decide e faz ou não faz. Está muita coisa mal em nós. Em cada coisa que fazemos ou não fazemos no nosso dia-a-dia.

O desporto pode ser um ótimo veículo de difusão de boas práticas. Tem de ir além dos minutos de silêncio por vítimas e comunicados sentidos. Já houve excelentes exemplos, venham mais.