Imortais

1. A imortalidade é uma característica dos heróis, daqueles que o coletivo consagrou como merecedores de memória a estender-se pelos confins dos tempos. O Sporting de ontem ficou aí a uns quarenta metros da imortalidade. Quarenta metros pode ser muito ou pouco, mas foram aqueles a que os leões ficaram, na maioria das vezes, da baliza do Arsenal, pois a imortalidade, na maioria dos casos, só se alcança com vitórias épicas. Mas, no contexto do atual Sporting, um empate em casa de um dos gigantes ingleses pode não ser imortal, mas fica lá bem perto. Quem já se esqueceu dos últimos seis meses do leão? Eu não.

2. Ser filho de um herói não deve ser tarefa fácil. Manuel Fernandes será imortal para muitos sportinguistas; Tiago Fernandes não o é e terá de provar que todos os cargos que ocupará não são fruto de algo que o acompanhará até ao fim dos seus dias - o apelido.

3. O Sporting ganhou muito pouco no futebol profissional nos últimos 40 anos para a sua grandeza, mas ontem estiveram mais de 5000 adeptos nos Emirates. Enquanto for acompanhado por esta dimensão de paixão, tenham muitos ou poucos heróis, os leões serão imortais, mesmo que muitas vezes os canhões com que se deparam não sejam os do Arsenal mas os que disparam para os outros próprios pés.

4. A definição de herói não será fácil, mas para atingir o areópago da imortalidade tem se reunir consenso. Penso que esta parte é pacífica. Mas quem consegue atingir feitos nunca antes alcançados por determinado clube, mesmo que iniciados por outros - lembram-se do tetra ? -, normalmente consegue reunir consenso e atingir a imortalidade. Ou não. Não é Rui Vitória?

5. Os heróis são imortais para o coletivo mas, como alguém disse, enquanto houver quem que se lembre de nós, seremos sempre imortais, independentemente da grandeza ou da pequenez da passagem pela vida. Para nós, o Arlindo é imortal.