7 junho 2024, 09:30
O treinador português ficou fora de moda
Como é que se explica que os portugueses se considerem entre os melhores treinadores do mundo quando já não treinam as melhores equipas nem podem atacar grandes títulos?
Comparado com sueco, Cabral não terá sido 1.ª opção ou sequer escolha do seu técnico, e falhava no encaixe no modelo inegociável de Schmidt
Os adeptos gostam de rótulos e têm dificuldades em distinguir tons. É quase sempre preto ou branco. Craque ou flop. Por isso, quando quem lidera é tão ou ainda mais adepto do que os que quer ver a encher as bancadas do estádio onde joga a sua equipa há sempre riscos de que corra mal. No entanto, quando o futebol é visto e analisado desde dentro, o contexto começa ou deveria começar a ganhar contornos decisivos. Porque pode ser fundamental no sucesso ou insucesso de um jogador.
7 junho 2024, 09:30
Como é que se explica que os portugueses se considerem entre os melhores treinadores do mundo quando já não treinam as melhores equipas nem podem atacar grandes títulos?
Não há jogadores iguais e Arthur Cabral e Viktor Gyokeres são muito diferentes. O primeiro ainda sobreviveu ao rótulo de flop que no início lhe parecia destinado, porém os 11 golos e 3 assistências em 43 encontros não chegaram para qualificar a época de bem-sucedida ou sequer garantir ao brasileiro uma segunda oportunidade na Luz. Precisamente ao contrário do sueco, que chegou, viu, convenceu de imediato e manteve o rendimento, fazendo da escolha para melhor jogador da temporada uma mera formalidade. 43 golos e 15 assistências em 50 partidas não deixaram margem para dúvida. No seu caso, a dificuldade será amarrá-lo a curto, médio prazo a uma liga tão periférica quanto a portuguesa.
Houve, no entanto, um caminho a percorrer até os dois avançados poderem colocar em campo o seu talento individual e as suas competências. Gyokeres foi aposta clara do Sporting. Desde cedo, ficou evidente que era o alvo principal e Rúben Amorim envolveu-se pessoalmente ao ligar-lhe. Explicou-lhe onde se enquadrava e convidou-o a vir. Deu-lhe moral. Ao fim dos primeiros treinos e jogos, o técnico percebeu o real impacto do nórdico e todo o processo de mutação na direção de um ataque mais posicional, iniciado na temporada anterior, ficou em suspenso. Amorim adaptou-se sim ao que lhe tinha caído nos braços porque percebeu o que valia, que era muito no panorama português.
Arthur Cabral foi solução de recurso e nunca muito bem aceite por Roger Schmidt. Antes, falara-se em Santiago Giménez, Pavlidis e Lucas Beltrán. O argentino estaria ainda com uma proposta dos encarnados em cima da mesa, quando se inclinou definitivamente para Florença, de onde partiu o brasileiro para Lisboa. O investimento foi alto, de 20 milhões de euros. Só que o alemão nunca o considerou um dos seus e, provavelmente, sempre sentiu que lhe faltava algo para que pudesse jogar o seu jogo. Schmidt desistiu dele, até quando estava a marcar golos. Nunca lhe deu importância suficiente para ajustar o modelo à sua volta, ele é que teria de adaptar-se. A equipa nunca o aproveitou e, assim, fracassou. Não querendo aqui medir talento, é certo que até o contexto favoreceu Gyokeres. Na Luz, desta vez, Pavlidis, parece ser alvo bem mais transversal. E esse é sempre um ponto de partida mais favorável.
P.S. Bastou a derrota com a Croácia para ler que Roberto Martínez deveria voltar à verdadeira identidade da Seleção Nacional, com bloco defensivo sólido e contra-ataques rápidos (!). No fundo, voltarmos a ser pequeninos outra vez. Humm... Até Trump tinha melhores slogans!