Guardem as garrafas, levem os aplausos

Em que é que o tratamento de choque das alas mais radicais de adeptos do FC Porto em Famalicão vai ajudar a equipa na sua demanda pela recuperação anímica, em vésperas de um jogo da Liga Europa? 'Estádio do Bolhão' é o espaço de opinião semanal do jornalista Pascoal Sousa

Dar o peito às balas é uma coisa. Submeter uma equipa a continuados insultos nos finais dos jogos, sabendo-se o quanto isso magoa os jogadores e em nada os ajuda a ultrapassar os bloqueios fora de casa, é um exercício de masoquismo. O FC Porto não jogou mal em Famalicão. Jogou mais que o Benfica em Arouca, por exemplo, com a diferença de que os encarnados saíram desse aperto com os três pontos e o FC Porto, não. O aplauso tem essa força revigorante nos encarnados. Os portistas dominaram, atacaram bem as segundas bolas e criaram mais oportunidades. A atitude esteve lá, a eficácia nem tanto.

Obviamente que o FC Porto não pode continuar o seu trajeto aos tropeções e o jogo com o Midtjylland é uma prova de vida para o conjunto de Vítor Bruno. Mas com que estado de espírito vai uma equipa enfrentar o campeão dinamarquês quando se expõe ao insulto gratuito e até a atos inqualificáveis, como o arremesso de uma garrafa de água em direção do treinador? Amanhã se verá. Uma coisa é certa: se os adeptos querem ajudar, deixem as garrafas em casa e tragam os aplausos.

Sim, o contexto explica muito do que aconteceu: o FC Porto falhou o assalto ao 1.º lugar e não capitalizou o desaire do Sporting em Moreira de Cónegos. Ainda assim, o que se viu em Famalicão sinalizou um FC Porto mais agressivo e com a raça que se exigia. Porém, depois daquele tratamento de choque das bancadas, não se sabe se na Liga Europa o bloqueio não será mais forte que o desejo dos jogadores em afastar de uma vez por todas a desconfiança das massas.