Grande dérbi
Se o Benfica tivesse jogado outras primeiras partes como a de ontem no Estádio da Luz, estou certo que teríamos outras contas nesta Liga
Que grande jogo. Que bonitos golos. Que intenso dérbi. Uma primeira parte de luxo do Benfica e com Pizzi a ser, em pleno, o comandante. Uma segunda parte à campeão do Sporting e com Pedro Gonçalves em evidência. O Benfica derrotou pela primeira vez o Sporting e impediu que este se sagrasse campeão invicto. Se o Benfica tivesse jogado outras primeiras partes como a de ontem no Estádio da Luz, estou certo que teríamos outras contas nesta Liga. Mas fica o apetite para a final da Taça de Portugal. E no final registo o fair play de todos os intervenientes deste grande jogo, de mais uma partida deste dérbi eterno. Bem hajam pelo jogo, pelos golos e pela paixão. A partir de um estádio que merecia público. Tal como daqui a 15 dias acontecerá na final da Liga dos Campeões.
Há dezanove anos - julho de 2002 - escrevi, com gosto e com honra, em razão de ser seu advogado e amigo, o prefácio do Bloco de Notas de Laszlo Boloni, o treinador do Sporting vencedor do então campeonato de Portugal. Aí escrevi que «no desporto há valores permanentes de todos os tempos e de todos os espaços. E são esses valores - a verdade, a virtude, a ética, a dignidade, a coerência e o fair play - que importa assumir no quotidiano, identificar nas ações e transmitir nos comportamentos»! Meu Querido e Amado Filho, o assumido e alegre sportinguista Alexandre, sempre me perguntava acerca do balneário fechado, que era uma das imagens de Boloni. Dezanove anos depois o Sporting voltou a ser campeão e merece, também aqui, os meus parabéns. Merecem Frederico Varandas e Hugo Viana, Dias Ferreira e Eduardo Barroso, e tantos e tantas Amigos(as) como, e sempre no plural, o João e o José, a Isabel e a Ana, o Rogério e o Ricardo, o Fernando e o Tó, o Álvaro e o Necas, a Maria e a Leonor, o Hélder e o Rogério, a Paula e o Paulo, que voltaram a sorrir e festejaram, com alegria intensa, uma competente conquista. Agora sob a liderança de Rúben Amorim que, graças a uma deliberação do TAD - confirmada pelo Tribunal Central Administrativo Sul e pelo Supremo Tribunal Administrativo - viu suspensa, entre outras, a «impossibilidade de registo por uma época desportiva» e, assim, também graças à argúcia dos juristas Ana Rita Relógio e Manuel Loureiro, não fez sofrer desportivamente o Casa Pia - com derrotas em diversos jogos - e teve condições para ser contratado, sem receios, pelo Sporting de Braga e, depois, com mestria e ousadia, pelo Sporting de Frederico Varandas e, também, Hugo Viana , um dos jogadores titulares de Boloni. E importa escrever, com serenidade, a história agora que se sente - e já não se pressente apenas - o arranque de uma campanha contra o TAD e quem o apoiar! O que posso dizer é que Boloni e Rúben Amorim têm algumas características em comum. Foram grandes jogadores profissionais e são treinadores vencedores. Um e outro proporcionaram momentos de uma imensa e intensa alegria que nem uma pandemia que ainda perturba e sempre angustia conseguiu, como o racional exigiria, refrear. Um e outro mostraram, nesta diferença de anos, com os seus sorrisos metódicos e as suas cautelas discursivas , que «a razão é o farol da vida, sem o qual ela soçobra e naufraga»! E esta é, neste novo tempo e nas concretas circunstâncias, afinal, e mesmo para aqueles que há quase vinte e sete anos estavam, bem encharcados, na noite bem chuvosa do fantástico 3-6 em Alvalade - com três golos de João Pinto, mais os de Hélder e de Isaías (2) - ou cuja memória, sempre seletiva em razão das urgências financeiras, se apagou, que só há verdadeira guarda de honra se houver dignidade, verdade, coerência e fair play. E estes princípios são determinantes nesta primavera e ainda neste verão de 2021. Que é bem diferente do de 2002 ou, mesmo, do de 2020! Os tempos são bem diferentes. É a vida, é da vida, desta nossa vida! Parabéns ao Sporting e a todas e todos as(os) sportinguistas!
Saberemos na próxima semana os convocados de Fernando Santos e de Rui Jorge para as suas grandes competições de futebol deste verão. Em rigor, do final desta primavera e do verão, que são o Campeonato da Europa e o Europeu sub-21. Sabendo por exemplo o Benfica, desde já, que Everton e Luas Veríssimo foram convocados para a seleção brasileira e Darwin Núñez para a seleção do Uruguai. Fernando Santos irá anunciar, em razão da pandemia, 26 jogadores e, acredito, teremos duas ou três surpresas no lote dos grandes jogadores que, desde logo, em Budapeste e em Munique, irão lutar pela renovação do título de campeões da Europa. É, de certa maneira, e sem ignorar a desconfiança japonesa em relação à efetivação dos Jogos Olímpicos, o regresso de uma relativa normalidade no que concerne a grandes eventos, sejam desportivos ou culturais. E os treinadores das diferentes equipas, principalmente aquelas que têm decisões determinantes - diria que estruturantes! - nas primeiras semanas de agosto, sabem que terão que preparar os primeiros e decisivos momentos da próxima época desportiva, tendo em conta os presentes nas diferentes seleções e, logo, ausentes nos primeiros instantes da pré-época. Sabendo todos nós que a presença vitoriosa nas seleções é uma verdadeira guarda de honra. Honra para o jogador e para o respetivo clube. Resguardo para os tesoureiros dos clubes (ou SADs) em dificuldades crescentes em tempo de pandemia, como se percebe pelas perturbantes notícias que nos chegam da Juventus e das suas angústias financeiras! E sabendo nós que «a honra é a poesia do dever»!
Portugal mereceu, uma vez mais, uma prova de confiança da UEFA. Pelo segundo ano consecutivo, agora no Porto e no Estádio do Dragão, a final da Liga dos Campeões realiza-se entre nós. É uma prova da excelência e do reconhecimento da nossa Federação, de Fernando Gomes e de Tiago Craveiro e também da boa relação com o Governo português, elemento determinante para a decisão da UEFA. Ser um Estado unitário é, nestes tempos, uma acrescida mais-valia! É mesmo! E, assim, no final deste mês Portugal e a atrativa cidade de Porto serão o palco mundial da grande festa do futebol europeu de clubes, a final da liga dos milhões, a decisão da Liga dos Campeões. Também aqui, e no que respeita aos portugueses envolvidos, são verdadeiras as palavras de Noel Clarasó: «A felicidade não consiste em fazer o que gostamos, mas gostarmos do que fazemos»!