Gosto de Roger e de Schmidt
Roger Schmidt, treinador do Benfica (Foto: Miguel Nunes)

OPINIÃO Gosto de Roger e de Schmidt

OPINIÃO27.07.202410:00

Nova oportunidade para o treinador do Benfica mostrar que o futebol não é um bicho de sete cabeças

O treinador do Benfica deu esta semana uma entrevista na qual voltou a mostrar-se como ele é, não me pareceu nem mais, nem menos consciente da realidade do Benfica do que nas épocas anteriores. E voltei a ficar convencido de que gosto de Roger. Parece-me uma pessoal frontal, apaixonada pelo que faz, convicta das suas ideias e que transmite com uma clareza que aprecio. Fala de futebol sem fantasmas, quando lhe perguntam.

À exceção de um ou outro episódio infeliz desde que está no futebol português, natural para quem ocupa um cargo com tamanha exposição, responsabilidade e a pressão que tal acarreta, Roger, para incómodo de muitos, reagiu e reage como qualquer um de nós reagiria se fosse insultado, cuspido e alvejado com garrafas de água: com choque e revolta.

Roger, para incómodo de muitos, reagiu e reage como qualquer um de nós reagiria

Mas Roger nunca deixou de dar a cara, mais ou menos sorridente dependendo do momento, nunca deixou de falar ao coração dos adeptos e sempre se assumiu como um deles, também.

Poderia fazer um esforço para o fazer mais vezes em português, sim, mas não será certamente isso que o define.

Depois há Schmidt. Tem, desde a época de estreia, uma ideia de futebol que muito me agrada e que, sendo simplista, seria a ideal num mundo perfeito. Ganha quem joga melhor, quem ataca mais e defende melhor, quem marca mais golos. Só que não. O futebol profissional e as especificidades do futebol em Portugal determinam que os jogos na maior parte das vezes não se esgotam nos 90 minutos e no resultado final, continuam a ser jogados, noutros campos, por semanas, meses e alguns até anos. Mas o escrutínio a Schmidt, não a Roger, começa e termina principalmente no campo; e neste domínio todos temos um pouco de treinador de bancada, e eu também tenho.

Não gostei de ver a última época da equipa

Não gostei de ver a última época da equipa, que pareceu de permanente pré-época em plena competição, sem acerto na estratégia, no posicionamento de alguns jogadores e até, por vezes, no modelo de jogo. Schmidt foi menos competente do que na época anterior a colocar a equipa a jogar e ela perdeu qualidade e perdeu quase tudo. Mas Schmidt continua a ser também Roger e, como ele próprio disse na entrevista, existem condições «para recomeçar».

Há muita gente com fome de afirmação

Nesta nova temporada, há muita gente com fome de afirmação, como na primeira de Schmidt, em que o Benfica foi campeão. Trubin, Tomás Araújo, Morato, Beste, Carreras, Leandro Barreiro, Kokçu, Rollheiser, Schjelderup, Prestianni Marcos Leonardo, Pavlidis ou Renato Sanches (que estará a chegar por empréstimo do PSG), por exemplo, ainda precisam de se mostrar ou consolidar posição.

Os jogos de pré-época até agora transmitem boas sensações e uma personalidade em construção bem mais entusiasmante do que a de 2023/2024.

Não precisando de se afirmar como treinador, Roger Schmidt tem aqui mais uma oportunidade para provar que ele está certo e que o futebol, até mesmo o profissional e de alto nível, não é um bicho de sete cabeças.

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