Fundadores insolventes
Opinião de João Diogo Manteigas
Só Real Madrid e Barcelona resistiram dos 12 clubes fundadores da Superliga. Mas convém olhar para os factos mais relevantes nos bastidores na insistência da criação de uma liga ultra milionária. O Real Madrid realizou recentemente uma Assembleia Geral de sócios que aprovou a ampliação do empréstimo para finalizar as obras do Santiago Bernabéu em mais €370 milhões. Ou seja, o clube (e não empresa) já se financiou em €893 milhões para reformar o seu próprio estádio, o que origina uma atualização do custo total com a obra a rondar os €1.200 milhões.
Já o Barcelona apresentava, em junho passado, uma dívida de €1.350 milhões que só foi posteriormente amenizada pela venda de 49,50% da Barça Studios por €200 milhões. Ainda assim, há uns meses, a consultora Ernst & Young (EY) colocou em causa a viabilidade do clube (e não empresa) com base num balanço consolidado a 30 de junho de 2020 e que revelava um fundo de manobra negativo na ordem dos €601 milhões. Ou seja, a EY apontou para uma economia interna à beira do colapso devido ao investimento no projeto imobiliário denominado Espai Barcelona (atualização do Camp Nou, estádio de futebol, Palau Blaugrana, pavilhão das modalidades, e Campus Barça, formação), na transferência de dívida a longo e curto prazo com entidades financeiras e nos investimentos nas contratações de jogadores.
Esta é a realidade da dupla de campeões crónicos da Liga espanhola. O fundo de maneio não é suficiente para as suas necessidades pelo que é óbvia a sede de dinheiro fresco. Dinheiro este que a JP Morgan Chase até esteve com vontade de investir na Superliga até ter percebido a amplitude de insatisfação dos adeptos a criar nas ruas uma convulsão social.
Podíamos juntar a estes casos de falência técnica o Atlético de Madrid (com €514 milhões de dívida líquida mesmo após reduzir em 19% a massa salarial), o Tottenham (com 853 milhões de libras em dívida bruta — a maior dos clubes ingleses — e relacionada com custos do seu estádio) e a Juventus (que perdeu mais de €600 milhões em cinco anos depois de ter resultados positivos líquidos em 2016-2017). A verdade é crua: estão falidos.