Fracas figuras
Até a expressão de Fábio Cardoso deu a sensação de estar a ser coagido
Odesenvolvimento vertiginoso de uma sociedade de consumo fez disparar uma máquina comercial em torno do setor desportivo. No futebol, sem que se tenham apercebido, os adeptos deixaram de representar aquilo que constituía associativismo puro. Passaram a ser meros clientes para quem vende o produto pois tudo é negócio, e consequentemente dinheiro, para sociedades desportivas, ligas de futebol e empresas associadas. Os atletas, por sua vez, saíram beneficiados. Outrora exemplares únicos de respeito entre si, foram idolatrados de forma sã. Então, o que dizer da análise ao comportamento deplorável de alguns jogadores da Porto SAD nas comemorações da liga recentemente vencida? Faz sentido que Otávio, Bruno Costa, Zaidu e Fábio Cardoso tenham decidido exprimir-se verbalmente de forma injuriosa e difamatória para com o 3.º da liga? Mais grave ainda quando o primeiro é aposta recente para a Seleção e o quarto alguém que esteve 10 épocas no ofendido! A possível sanção de suspensão (1 a 4 jogos) acrescida de multa conforme prevê a alínea b) do artigo 158.º do Regulamento Disciplinar constitui um corretivo suficiente? Não! Pior só mesmo a disseminação do ato estapafúrdio numa rede social para agradar a um público alvo. Em bom rigor, até a expressão de Fábio Cardoso deu a sensação de estar a ser coagido para a prática de ação censurável. Fracas figuras. Há que saber vencer mas, mais profundamente, há que refletir sobre se o modelo de formação em Portugal é o mais correto. Li e partilhei com atenção as palavras de Rodrigo Magalhães, diretor técnico do Benfica, que recentemente manifestou preocupação em perceber até que ponto a competição é nociva para os jovens, de forma a promover um crescimento mais saudável. A tensão em torno do profissionalismo (com total cumplicidade dos pais) que se tenta incutir desde cedo com vista ao máximo lucro possível anos mais tarde não permite, em muitos casos, obter o mesmo nível de sucesso em termos humanos.