Fernando Gomes está de saída da presidência da Federação Portuguesa de Futebol
Fernando Gomes está de saída da presidência da Federação Portuguesa de Futebol (Foto: Miguel Nunes)

FPF: vinte dias, vinte ideias para o futuro

OPINIÃO25.01.202509:15

'Livre e Direto' é o espaço de opinião semanal do jornalista Rui Almeida

Faltam vinte dias para o começo de uma nova vida na Federação Portuguesa de Futebol (FPF). Com o legado e a longevidade de Fernando Gomes e da sua equipa na Cidade do Futebol (ela própria resultado da visão e da capacidade de empreendimento do mais que provável novo presidente do Comité Olímpico de Portugal), a responsabilidade de quem chega aumenta exponencialmente.

A obra feita é muita — seja do ponto de vista estrutural, seja no capítulo competitivo de alto rendimento, seja no investimento em formação — e talvez não deixe margem a arrivismos, novos riquismos ou outros egocentrismos.

Faltam vinte dias, e aqui ficam vinte ideias que talvez possam ajudar a separar o trigo do joio e a perceber do que (e de quem…) efetivamente necessita a FPF para o próximo quadriénio.

1 — Um contínuo aproveitamento da Portugal Football School (benchmark a nível mundial), alargando o âmbito da escola de pós-graduações da FPF e tornando tranversal a sua oferta, também com a descentralização e multiplicação de áreas de interesse.

2 — Aproveitamento efetivo do trabalho das associações de futebol, verdadeiro alfobre de talentos e base efetiva de todo o futebol português, num trabalho envolvendo todo o território nacional, nas suas particularidades e na despistagem de novas oportunidades de criação de interesse pelo jogo.

3 — Simplificação dos processos jurisdicionais, no espaço, no tempo e na divulgação de decisões, por forma a agilizar claramente os métodos e as ações, e considerando que a celeridade nas decisões é aspeto primordial para manter a verdade desportiva, clarificando rapidamente as situações que careçam de intervenção dos órgãos disciplinares.

4 — Fortalecimento do setor da arbitragem a três níveis: angariação e formação de jovens árbitros, reforço das condições para os juízes das competições de base e aumento da capacidade de comunicação no alto rendimento, permitindo um maior conhecimento do jogo por parte de intervenientes e adeptos.

5 — Adaptação dos calendários às necessidades competitivas das seleções, mas, igualmente, às novas tendências internacionais, com o desenvolvimento das competições da UEFA e da FIFA.

6 — Fortalecimento estrutural da prova rainha, a Taça de Portugal, encontrando nos calendários fins de semana específicos para a competição e mantendo as meias-finais a duas mãos.

7 — Encontrar soluções eficazes para uma competição que tem de ser alterada (passando a participar todas as equipas integrantes da Liga Portugal) ou, pura e simplesmente, extinta.

8 — Reforçar a componente solidária da FPF, com a criação de uma Fundação direcionada para temáticas de inclusão, diversidade e solidariedade, na sequência, de resto, de alguns programas já existentes.

9 — Continuidade de um foco muito importante no compliance, na regulação, na ética e na liderança no feminino, proporcionando oportunidades reais de integração e de capacitação de quadros em áreas nucleares do desenvolvimento harmonioso da modalidade.

10 — Reforço da relação com todos os stakeholders que (se) envolvem diariamente nos trabalhos federativos, e que contribuem para o sucesso crescente do futebol português, nas suas diversas áreas.

11 — Comunicação transversal, continuando a excelente dinâmica do Canal 11, a sua integração com as componentes multimédia, e potenciando o trabalho de associações, clubes, protagonistas de todos os momentos do futebol (em) português, o que significa uma ultrapassagem de fronteiras e um piscar de olho essencial a todo o mundo em língua portuguesa.

12 — Continuidade, com reforço estrutural e financeiro, do projeto de crescimento do futebol no feminino, uma das mais bem sucedidas áreas de intervenção da FPF nos últimos anos, continuando a captação de jovens e a garantia de condições próprias para o seu desenvolvimento no jogo.

13 — Criação de um canal de rádio exclusivo, no que seria igualmente a FPF pioneira a nível mundial, com conteúdos de tratamento mais simples e direto, e programação integrada com as diversas organizações nacionais e com o Canal 11.

14 — Interação intensificada com os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, aproveitando o capital de simpatia e confiança gerados, ao longo dos anos, pelo futebol português e seus protagonistas, e estreitando relações ao nível da partilha de conhecimentos, da formação integrada e da organização de competições.

15 — Candidatura à organização de um Mundial de futsal, modalidade que o justifica amplamente pela massificação e pelos resultados do alto rendimento, da mesma forma que os seus adeptos.

16 — Projeto para a criação de estruturas físicas descentralizadas, considerando a normal saturação da Cidade do Futebol, e a gradual maior aproximação a outras importantes regiões do país.

17 — Relação mais próxima com a diáspora, aproveitando mais-valia em termos afetivos e de envolvimento, com presença de antigos protagonistas nas comunidades portuguesas pelo mundo.

18 — Atenção redobrada à organização da fase final do Mundial de 2030, como oportunidade única para a imagem exterior do país e da sua capacidade.

19 — Uma Direção profissional, responsabilizada, atenta, com interação permanente e com o foco em rigor e transparência em todos os âmbitos de ação.

20 — O adepto como figura essencial do jogo, acarinhado, colocado no centro das preocupações, sendo primordial a criação de elos de ligação e de perceção dos seus anseios e das suas motivações.

Cartão branco

Duas presenças consecutivas em Mundiais (Lituânia e Uzbequistão), um segundo lugar no CAN-2025, promoção do futsal a nível provincial, não restringindo as oportunidades a Luanda, uma evolução gradual mas segura da modalidade e da imagem de Angola.

O panorama do futsal no país é hoje bem diferente (para melhor), do que sucedia há seis anos, e não apenas ao nível da seleção principal e das suas recorrentes presenças em competições internacionais.

Marcos Antunes deixa uma pesada herança aos novos responsáveis pelo futsal angolano, saindo pela porta grande e, certamente, abraçando muito em breve novos e aliciantes projetos na modalidade.

Cartão amarelo

Para quem ainda tinha dúvidas da competitividade das principais equipas portuguesas em competições da UEFA, esta semana deve tê-las tirado por completo.

Reflexo de uma liga fechada em si própria e sem reflexo efetivo além-fronteiras, as derrotas de Benfica, Sporting, FC Porto e SC Braga não são mais do que a prova evidente de que ainda falta muito caminho para que os conjuntos lusos se imponham verdadeiramente no panorama internacional.

Semana terrível, mas absolutamente realista.