A chegada de um treinador de 39 anos e que joga com três ou cinco defesas vai criar uma expectativa junto dos adeptos portistas e dos seguidores do futebol português em geral
Na ressaca de uma semana muito negra para o futebol português na UEFA — onde estão os milhões — importa que cada clube se vire para o futuro imediato, em primeira instância, e para o futuro a longo prazo, como deveria ser regra em cada um deles e em todos os outros.
Entre os quatro que, apesar das derrotas, ainda têm de pé os objetivos europeus, o FC Porto será o que mais tem a perder ou a ganhar, a médio-longo prazo, com o que as próximas semanas/meses trouxerem, seja a nível UEFA ou a nível Liga Portugal.
André Villas-Boas, adepto de roturas, rompeu primeiro com quase cinco décadas de monarquia institucional no clube. Na passada, promoveu a número um da equipa técnica, abdicando de um treinador carismático e muito portista, um jovem no qual acreditou. Deixou de acreditar por causa dos resultados, o que é absolutamente natural, e dispensou-o.
Quando toda a prudência dizia que o passo seguinte passaria por um treinador português de nome firmado ou um estrangeiro mais do que reconhecido, o presidente do FC Porto escolheu um jovem argentino com trabalho feito no Equador e no México. A cartada é alta, mas merece que não nos precipitemos.
Martín Anselmi prepara-se para render Vítor Bruno ao comando dos dragões; já bateu Vítor Pereira e conquistou troféus como adjunto e treinador principal; acima das táticas, quer liderar um grupo de pessoas «que deixa de ter objetivos pessoais e passa a ter um objetivo muito maior»
André Villas-Boas, é bom não esquecer, é na sua génese um treinador. Isto não é nem nunca será prerrogativa única para um presidente contratar um técnico, mas admitamos que pode ajudar na escolha. O facto de em Portugal muito pouca gente conhecer Martín Anselmi é irrelevante.
O importante a reter é que o argentino foi o escolhido, e tê-lo-á sido por força de vários fatores que levaram o presidente do FC Porto a avançar.
Há, porém, algo a que, por mais que queiram, Villas-Boas e o FC Porto não escaparão: a comparação com Ruben Amorim.
Ganhando, empatando ou perdendo na sua inconstante vida atual, Amorim marcou uma viragem no futebol português.
A chegada de um treinador da idade dele (Ruben faz 40 na segunda-feira, Anselmi em julho), e que ainda por cima joga com três ou cinco defesas, vai criar uma expectativa junto dos adeptos portistas e dos seguidores do futebol português. Um pouco como aconteceu quando todos (portistas e não só) andavam à procura do novo José Mourinho.
Pode parecer rebuscado, mas talvez vá pairar no Dragão uma espécie de fantasma de Ruben Amorim.
Desportiva_MENTE é o espaço de opinião quinzenal de Liliana Pitacho, Psicóloga e docente
no Instituto Politécnico de Setúbal