OPINIÃO FC Porto: férias por conta da casa

Não consigo compreender a condescendência que há para arruaceiros da palavra, do gesto e da violência gratuita que vão depois esperar a equipa. Este é o ‘Nunca mais é sábado’, espaço de opinião de Nuno Raposo

Começa a ser recorrente, tanto que quase se normalizou: basta um dos chamados clubes grandes perder um jogo e depois da primeira manifestação de desagrado no estádio seguem-se outras. E se no estádio o assobio e o apupo até serão normais – o que não acho normal é muitas vezes a embaraçosa forma como os jogadores, treinadores e staff se desdobram em justificações fora de lugar e a quem não as merece pela forma como se comporta nas bancadas –, não consigo compreender a condescendência que há para arruaceiros da palavra, do gesto e da violência gratuita que vão depois esperar a equipa na chegada ao estádio ou ao aeroporto, quando a viagem é de avião.

Aquilo que acontecia amiúde quando as crises se alongavam nos maus resultados sistemáticos, acontece agora com a regularidade de qualquer derrota ou empate. Já o vimos em Alvalade, já o vimos na Luz, vimo-lo mais recentemente e mais insistentemente no Dragão.

Sim, o FC Porto perdeu com o Nacional e com isso perdeu a oportunidade de ultrapassar o Sporting e de se isolar no comando da Liga no final da 1.ª volta – com toda a simbologia que tem dobrar o cabo do campeonato com esse estatuto. Não, o FC Porto não viu com essa derrota na Madeira hipotecar o título ou ficar em zona periclitante na tabela. Porém, à chegada ao aeroporto e ao Dragão lá estavam os do costume, de lábia afiada e mão leve para atirar tochas e rebentar petardos.

Polícia chamada, a um e a outro local, e a ver aqueles gatos pingados enraivecidos a insultar tudo e todos, a espumar da boca como não espumam por coisas bem mais importantes e a explodir a cólera em mais um petardo ou a acendê-la noutra tocha atirada ao autocarro.

As televisões correm para mais um espetáculo de luz e cor, com banda sonora de rebentamentos e insultos. A polícia afasta-os, a caravana passa e para a próxima há mais. É só haver mais uma derrota e a festa está garantida.

Continuemos no FC Porto como exemplo desta vez, mas não único, replicado nos outros grandes – até noutros com pretensões a sê-lo e às vezes até parece que para terem esses estatuto também têm de ter os seus próprios arruaceiros... E continuamos no FC Porto porque ficámos a saber que os manifestantes do costume – muitas vezes até foram lá plantados a mando de quem manda no clube, com os seus homens de confiança a cargo de um gangue cheio de homens de mão para fazer o serviço sujo – mais não passavam de marionetas falantes fiéis aos homens de confiança que organizavam a arruaça enquanto esperavam para ir a banhos para as Caraíbas – um extra além dos negócios que o cargo que ocupavam lhes permitia…

E são estes que se dizem os verdadeiros adeptos, que vão a todo o lado por amor ao clube. No meio deles, nas bancadas, até os há. Mas estes, os de gatilho fácil para a arruaça, ou são os paus mandados dos veraneantes das Caraíbas ou são eles mesmos empresários à espera da recompensa das negociatas ou turistas a contar os dias até umas férias por conta da casa.