Falta de rigor no melhor campeonato do mundo
Qualidade do hóquei em patins português merece muito mais
No desporto, a arbitragem é uma peça crucial para a justiça e integridade das competições. A falta de rigor e qualidade nas arbitragens pode claramente comprometer não só os resultados, mas também a qualidade do espetáculo desportivo.
Com o campeonato português de hóquei patins a terminar, aquele que muitas vezes é apontado como o melhor campeonato do mundo, importa largamente refletir sobre o caminho da arbitragem na modalidade. Como alguém que gosta da modalidade não posso deixar de notar que a qualidade da arbitragem tem diminuído grandemente nos últimos anos. Não se trata aqui de clubes protegidos ou penalizados, não se trata de uma arbitragem que inclina o campo para algum dos lados, mas sim de uma ausência de rigor constante onde ao longo do jogo se torna quase impossível perceber quais são os critérios utilizados tamanha é a discrepância entre eles. Isto não prejudica (ou pelo menos não só) uma equipa, prejudica a imagem da modalidade, a sua credibilidade e o interesse que ela desperta.
A psicologia social oferece uma lente valiosa para entender este fenómeno. A teoria da justiça sublinha que os indivíduos esperam ser tratados de maneira justa e equitativa. Quando os jogadores sentem que as decisões dos árbitros são inconsistentes, isto aumenta o sentido de injustiça, pois como qualquer ser humano tendem a atribuir mais valor às decisões que sejam mais penalizadoras para si, o que destabiliza os atletas do ponto de vista emocional. Esta perceção de injustiça, quando se deve à inconsistência e falta de rigor na arbitragem, mina a confiança nas autoridades do jogo, não apenas para uma das equipas, mas para ambas, como também aumenta a pressão psicológica sobre os atletas, afetando o seu desempenho e podendo mesmo fazer aumentar os comportamentos agressivos. Vários estudos demostram que a frustração é um precursor comum da agressividade. Quando os jogadores percebem que estão a ser prejudicados por erros de arbitragem, é natural que essa frustração se manifeste em comportamentos agressivos, tanto verbalmente como fisicamente, criando um ambiente de tensão e hostilidade, o que compromete a disciplina, o espírito desportivo e a qualidade do jogo.
A melhoria do rigor e da qualidade da arbitragem é crucial não só para a verdade desportiva, mas também para a manutenção dos níveis de qualidade da modalidade, bem como da sua capacidade de atrair público. Neste sentido, talvez seja o memento de refletir sobre a preparação técnica das equipas de arbitragem, mas também a física e principalmente a preparação mental. Mas independentemente de tudo, uma coisa é certa: a qualidade do hóquei em patins português merece muito mais rigor e qualidade do que aquela a que temos vindo a assistir.