Eurolândia, dia 3: falência do bloco central, laranja com sumo e um Bellingham com força de três leões
Jude Bellingham em grande frente à Sérvia (Alexandra Fechete/IMAGO)
Foto: IMAGO

Eurolândia, dia 3: falência do bloco central, laranja com sumo e um Bellingham com força de três leões

OPINIÃO17.06.202400:53

Alguns pensamentos e notas tiradas sobre o Campeonato da Europa de 2024

Dia 3 no Euro 2024 e ainda não há surpresas no que aos resultados diz respeito. Se houvesse dúvidas, bastaria olhar para o ranking da FIFA. A seleção dos Países Baixos (7.ª) ultrapassou a da Polónia (28.ª), tal como a Inglaterra (4.ª) bateu a Sérvia (33.ª). A meia-surpresa, admita-se, veio da igualdade entre Dinamarca (21.ª) e a Eslovénia (57.ª). A tabela será atualizada daqui por três dias, porém não se deverão registar mudanças significativas.

Países Baixos e Inglaterra conseguiram triunfos tangenciais, respetivamente por 2-1 e 1-0, e viveram em sobressalto até ao último suspiro das respetivas partidas. Já a Dinamarca construiu inúmeras oportunidades para um resultado folgado, porém a Eslovénia, com alguma felicidade, salvou um ponto que pode ser importante para as suas contas.

Destaque, em termos estratégicos, para a tendência reforçada de construir linhas de 4 em esquemas mais projetados, e para a falência das estratégias de Eslovénia e Sérvia, que tentaram bloquear o corredor central aos rivais, sem grande sucesso.

O pentágono, o central desequilibrador e o 'pinheiro' que marca à primeira

Ronald Koeman apresentou-se, em Hamburgo, na estreia diante da Polónia com um 4x2x3x1 que era tudo menos simétrico. A forma inicial era a seguinte:

Os Países Baixos em 4x2x3x1 para o jogo com a Polónia

No entanto, com bola os neerlandeses distribuíam-se de forma bem mais ofensiva no terreno:

Construção a 3, com Dumfries de imediato como extremo, na linha de Gakpo. Pentágono rotativo formado pelos dois médios centro, os dois médios ofensivos e pelo falso 9. Aké com ordem para adotar posicionamentos mais altos quando necessário.

Os Países Baixos sofreram o 1-0 numa bola parada, depois de 15 minutos com várias oportunidades a seu favor. Gakpo não deu paz a Frankowski, as movimentações e simplicidade de Reijnders (jogador tremendo!) no passe desbloquearam inúmeros problemas e garantiram progressão, e apenas a finalização ficou aquém. No entanto, o empate chegou aos 29 minutos. Aké recuperou uma bola em terrenos intermédios e serviu Gakpo. O remate bateu num adversário e traiu Szczesny.

O 3x4x2x1 polaco no jogo com os Países Baixos.

Os três centrais não foram real obstáculo para as movimentações dos neerlandeses, que provocaram inúmeros calafrios a Szczesny. Por outro lado, com bola, a Polónia foi uma equipa sobretudo de transições, futebol vertical e bolas paradas muito perigosas.

Subida de Kiwior no momento de construção para apoiar Zalewski, que se projetava no corredor. Saída a 1+2 com Szczesny participativo. Futebol mais direto por parte dos polacos.

A segunda parte do conjunto de Ronald Koeman não foi tão forte como a primeira. Mesmo assim, a finalização esteve longe de ser a ideal. Tudo mudou aos 81 minutos, com a entrada em campo de Wout Weghorst para o lugar de Memphis Depay. Aké, mais uma vez subiu no campo, tentou servir Wijnaldum (tinha entrado antes para o lugar de Veerman) na área, mas um desvio colocou a bola ao alcance do avançado do Hoffenheim. No primeiro toque na bola, com o pé esquerdo, o pinheiro de Koeman atirou para o triunfo.

Tapar o corredor central não chega

Dinamarca e Eslovénia defrontaram-se em Estugarda e cedo se percebeu que os nórdicos iriam assumir o controlo da partida e os eslovenos preocupar-se sobretudo com transições ofensivas. A ideia de Matjaz Kek era montar uma armadilha no corredor central, recuperar a bola e saltar rápido para o contra-ataque.

Linha de 4 médios da Eslovénia muito junta, tal como os dois avançados, para impedir que a bola progredisse pelo corredor central e chegasse a Eriksen mais à frente. A pressão nunca funcionou e os dinamarqueses conseguiram sempre construir com facilidade.
Muito pressionante, a Dinamarca subiu as linhas e recuperou muitas bolas em terrenos adiantados. Os dois avançados centro funcionaram muitas vezes como apoios para os companheiros a chegar, com destaque para Jonas Wind nesse capítulo.

A estratégia dos eslovenos ruiu aos 17 minutos. Um lançamento lateral marcado rapidamente foi devolvido pelo calcanhar de Wind para o caminho de Eriksen, que bateu Oblak com uma biqueirada. A situação foi tentada outras vezes durante o encontro sempre com o ponta de lança do Wolfsburgo como referência, o que confirmou tratar-se de algo ensaiado nos treinos, e, de uma das vezes, por pouco não valeu o bis a Eriksen.

Com o 1-0 a subsistir, a Eslovénia tornou-se mais pressionante, o que pouco tinha funcionado até aí, e Benjamin Sesko assinou um remate extraordinário, ainda desviado, ao ferro. Na sequência do canto respetivo, o lateral-esquerdo Janza acertou, na sua terceira tentativa durante os 90 minutos, um remate de fora da área. A bola desviou em Morten Hjulmand e traiu Kasper Schmeichel. Sporar, um dos mais inconformados, ainda assustou o guarda-redes um punhado de vezes, mas a pontaria do ex-Sporting estava tudo menos afinada.

O resultado penaliza uma Dinamarca que foi quase sempre melhor e teve o maior número de oportunidades.

Bellingham a nível estratosférico

Era o jogo mais aguardado do dia. O resultado confirma um Euro avesso a surpresas, porém em jogo jogado a Sérvia ainda assustou. Jude Bellingham ativou dois dos pontos fortes da Inglaterra: a dinâmica Kyle Walker-Bukayo Saka pela direita e a sua própria capacidade para aparecer por todo o lado.

O 3x5x2 sérvio montado para municiar o jogo aéreo de Vlahovic, Mitrovic e Milinkovic-Savic, com dois alas excelentes no cruzamento. O golo sofrido cedo precipitou a estratégia inicialmente mais cerebral da equipa de Dragan Stojkovic.
A Sérvia em fase de ataque, com Pavlovic a evoluir pela esquerda e Gudelj a apoiar a saída. Milinkovic-Savic a entrar numa segunda vaga na grande área, sempre que possível.

O esquema de três centrais (com a falta de constância defensiva dos alas) foi desmontado com facilidade por parte dos ingleses. Kyle Walker meteu a bola no espaço entre Kostic e Pavlovic, que teve de tentar o desarme de recurso sobre o cruzamento de Saka. Foden tinha aparecido mais perto do primeiro poste e atraído as atenções de Milenkovic, tal como Harry Kane ficou a ser vigiado por Veljkovic. A bola ainda desvia, passa por cima do central da esquerda, e apanha o movimento de Bellingham, que embala e cabeceia sem hipóteses para o baixinho Zivkovic, que se meteu por dentro para tentar compensar, e Rajkovic.

O 11 da Inglaterra, com três laterais direitos: Arnold jogou no meio-campo e Trippier na esquerda. Foden e Bellingham não tinham lugar fixo.
A assimetria de Inglaterra na primeira fase de construção, com o desdobramento de Trippier pela esquerda. Saída a 3. Walker mais cauteloso nas subidas. Rice como proteção. Foden e Bellingham em rotação. Saka arma para o 1x1. Kane a baixar para distribuir.

O conjunto de Gareth Southgate não realizou uma exibição de encher o olho. Controlou sem dominar e ainda apanhou um ou outro susto, sobretudo na segunda parte, com o crescimento dos sérvios, que aumentaram a agressividade. O selecionador equilibrou quando fez entrar Gallagher para o lugar de Trent Alexander Arnold, muito apagado e sem capacidade de elevar o ritmo ou de meter os seus famosos passes longos.

A Sérvia, mais uma vez, foi penalizada pelas fragilidades defensivas.