Eu acredito
Como cheguei ao futuro, assumo que parto para este Europeu de onze cidades com uma fé imensa e uma forte convicção
Já cheguei ao futuro. Com estes sessenta e cinco anos de idade tenho de viver o presente, celebrar a vida, sentir a vida vivida, olhar para o passado e ter esperança que este futuro se prolongue por alguns anos. E esta chegada, neste Dia de Santo António, suscita-me algumas memórias em razão do arranque deste Euro-2020, concretizado em virtude desta pandemia que ainda nos condiciona e angustia neste ano de 2021. Gosto de futebol. Diria que gosto muito de futebol. Vibro com a Seleção - com as diferentes seleções! - e com o Benfica. Acompanho, em permanência, o Académico de Viseu e, também, em razão do saudoso Senhor meu Pai, o Viseu e Benfica. E estou atento ao Ericeirense e ao Sintrense , ao Primeiro de Dezembro e ao Real, ao Futebol Benfica e ao Lourel, ao Negrais e ao Cacém, entre tantos outros clubes e instituições desportivas. Assisti, ao vivo, e logo com cores, a oito Europeus de Futebol. O primeiro foi o França-84. Com Platini a sobressair. Depois o Europeu ainda com a Alemanha dividida - e o próximo Europeu será na Alemanha! - na então República Federal e com Van Basten a ser o goleador da competição e com a Holanda a encantar e a vencer. Faltei, tal como a nossa seleção, ao Suécia-92. Mas regressei, com entusiasmo e convicção, com o Europeu de Inglaterra em 1996. E depois, já neste século, estive nos Europeus coorganizados e desde logo em 2000 no disputado na Bélgica e na Holanda, no da Áustria-Hungria em 2008 e no da Polónia e da Ucrânia em 2012. E no Euro-2004 tive largos momentos de prazer e um intenso e prolongado instante de dor com a nossa derrota na final face à Grécia. E estive, com intensa alegria e imensa honra , no Europeu de França, e chorei em Paris na final e no final desse jogo em que conquistámos, com brilho, o Euro-2016. De 1996 até hoje sempre ultrapassámos a fase de grupos, que, aliás, foram crescendo em número de participantes! Duas vezes ficámos nos quartos de final e outras duas nas meias-finais. E disputámos, com sortes diferentes, duas finais. Agora, na terça-feira, começamos a defesa do título brilhantemente conquistado. Frente à Hungria importa começar com uma vitória. Mais do que o prémio da vitória - 1,5 milhões de euros -, o que importa são os três pontos. Bem relevantes tendo em conta que a Alemanha e a França são os nossos próximos adversários, o que implica reconhecer que temos uma primeira fase de alto risco. Na verdade, os dois primeiros de cada grupo avançam diretamente para os oitavos de final e os quatro melhores terceiros também chegam aos oitavos de final. E recordando que no Europeu de 2016 não ganhámos nenhum jogo na fase de grupos… Como cheguei ao futuro, assumo que parto para este Europeu de onze cidades - pensado assim para comemorar os 60 anos do primeiro Europeu de futebol! - com uma fé imensa e uma forte convicção. Eu acredito! Acredito que vamos defender, reconquistando-o, o título de melhores da Europa. E tal como Santo António - e aconselho o romance de Gino Saviotti acerca do Padroeiro de Lisboa - também importa acreditar! Força Fernando Santos e Cristiano Ronaldo! E nestas duas referências de excelência envolvo toda a comitiva oficial que, com um forte abraço amigo e solidário, cumprimento, desejando, como merecem, todas as felicidades! Eu acredito!
Com as primeiras participações ontem da Finlândia - frente à Dinamarca - e hoje da Macedónia do Norte face à Áustria são já 35, em 55, as Federações de Futebol que integram a UEFA, que disputam a fase final de um Europeu. E no Europeu de França, que alargou, recordo, para 24 os finalistas, participaram pela primeira vez o País de Gales, a Eslováquia, a Albânia, a Irlanda do Norte e a Islândia. Os Europeus de futebol são, assim, a expressão da grande Europa desportiva. E importa relembrar, nestes tempos de tentativa de criação de uma europeia Superliga, que o europeísmo desportivo foi uma forma de antiamericanismo. E este europeísmo surge em razão dos Jogos Olímpicos de Los Angeles em 1932 e o futebol tem como primeiro marco a Taça da Europa Central - Mitropa Cup! -, que se disputou entre 1927 e 1939. E não ignoramos a desconfiança da FIFA no momento da criação (1955) da Taça dos Clubes Campeões Europeus e, depois, o nascimento dos Europeus de seleções e que integram as seleções de Estados da Europa geográfica, outras de territórios (Gibraltar, por exemplo) e, também, Israel. Sem esquecermos, aqui, e como vimos no jogo inaugural, a Turquia e lembrando o (então) presidente da federação turca que em 1961 dizia que «certas afinidades nos aproximam das equipas europeias, tanto do ponto de vista geográfico quer do equilíbrio de forças»! E, assim, a UEFA é a expressão da Grande Europa. Que vai, graças ao imenso território russo, do Atlântico ao Pacifico, abraça o Mediterrâneo e corre ao lado de tantos rios como o emblemático Reno ou o majestoso Danúbio que a nossa seleção todos os dias vislumbra e desfruta. Acreditando que chegaremos a Londres, paragem final - se a pandemia o permitir... - deste Europeu em que muitas seleções jogam todos os jogos em casa. Como não há país nem países organizadores, a Alemanha, a Itália, a Espanha, os Países Baixos ou a Dinamarca jogam sempre em casa! Como, aliás, a Inglaterra - a Escócia é Reino Unido… - e como, em dois jogos, a Hungria e a Rússia. Mas, apesar desta singularidade , eu acredito… em Portugal … e na nossa seleção! Força Portugal! E, aqui, também votos de um excelente Europeu a Artur Soares Dias, e à sua equipa, e a João Pinheiro, aqui, como VAR.
Sabemos que a vida é variedade. E hoje despedimo-nos, já com muita saudade, de um Grande Senhor, de um grande Homem do Futebol e um Cidadão empenhado: Adelino Barros, o Querido Neno. Para mim era de uma simpatia perturbante e cativante: «Como está Doutor? Bem … como se vê?!!» E sabendo que a vida é um viajante, o futebol no seu todo, e em particular a cidade de Guimarães e o seu clube de referência, tudo devem fazer para que se imortalize o sinal dos seus passos, a elegância das suas defesas, o som da sua alegria e a felicidade que irradiava do seu sorriso. Para mim, um sorriso eterno!
Jorge Fonseca, em Budapeste, renovou o título de campeão do Mundo de Judo. Depois do ouro em Tóquio, agora o ouro na Hungria. Prova notável e prestação exemplar. Mas a forma como as lágrimas lhe caíram no momento em que escutava o Hino Nacional emocionaram-me. Tocaram-me profundamente. Sei que entrar na Polícia é o seu sonho. Sabemos que a vida é um sonho mas, por vezes, é possível, de forma geral e abstrata, ajudar a concretizar sonhos merecidos. Basta haver vontade. E como escrevia Maquiavel, «onde há uma vontade forte não pode haver grandes dificuldades»! Também aqui acredito… que é possível!
O susto foi grande, mas depois de muitos minutos de incerteza as notícias em torno de Christian Eriksen são animadoras. Que recupere rápido e vença aquele que é o jogo mais importante de todos. O jogo da vida!