Ética para quê?

OPINIÃO08.07.202206:30

Os dirigentes sobrevivem nos cargos à conta de sonhos que vão prometendo

T ENHO vindo a acusar a gestão de alguns dirigentes no futebol nacional que deixam rasto de más práticas. Um exemplo é o procedimento transversal a todos aqueles que falharam os objetivos desportivos das épocas anteriores: gastam dinheiro na contratação de jogadores e hipotecam as épocas seguintes se o insucesso se prolongar. E, legitimamente, os adeptos preferem sonhar com futuro risonho para esquecer mágoas do passado. Basicamente, os dirigentes sobrevivem nos cargos à conta de sonhos que vão prometendo. Quantas vezes os ouvimos dizer que «os erros estão identificados e irão ser corrigidos»? Não desarmemos, o problema está neles. Porém, o nosso sistema desportivo está feito para acomodar dirigentes que hoje apertam as mãos nas cimeiras criadas para eles próprios e amanhã trocam acusações entre si, provando que não são dignos de exercer o cargo que ocupam. Não faltam planos sobre a ética e fair play como o Código de Ética Desportiva do Instituto Português do Desporto e da Juventude, o Guia de Integridade Desportiva do Comité Olímpico de Portugal e o Código de Ética da FIFA cuja edição só se lembraram quando rebentou o escândalo FIFAGate. E se procurarmos punição disciplinar para os clubes por falta de ética dos seus dirigentes, que encontramos? Uma multa de montante irrisório quando resultar da conduta uma lesão dos princípios da ética e da verdade desportiva ou grave prejuízo para a imagem e o bom nome das competições (alínea b do 118.º do Regulamento Disciplinar da Liga). Se não podemos punir com base na ética porque é que nos damos sequer ao trabalho de pensar em conflito de interesses ou falta de ética entre SC Braga e FC Porto no valor extra dos objetivos da venda de David Carmo ou na posição de Salvador no processo Horta? O futebol hoje está feito para insolventes que não podem ter bens em seu nome e que habitam casas cuja propriedade pertence aos seus próprios funcionários ou que ladram sem morder quando exigem mundos e fundos colocando em causa os proveitos legítimos dos outros.