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OPINIÃO10.03.202305:30

Sonho que celebrar o Dia Internacional da Mulher não faça qualquer sentido

TAL como Martin Luther King, eu também tenho um sonho. Ou melhor, muitos sonhos. Um deles, que celebrar o Dia Internacional da Mulher não faça sentido algum. Desde que isso significasse que a questão da igualdade de género deixara de ser assunto, que homens e mulheres eram igualmente livres de fazer as suas escolhas.

Não sei o que me incomoda mais: se a discriminação contra as mulheres, se o paternalismo revelado por homens quando o tema é a igualdade de género. Numa análise cínica, que o diabo escolha a segunda hipótese, porque ao menos neste caso as mulheres veem reconhecidas as suas liberdades. Atenção que o verbo reconhecer não foi escolhido por acaso, a verdadeira luta da mulher nunca foi por ganhar direitos, mas por ver reconhecido o exercício dos seus direitos.

Confesso que não gostei de todos os elogios que ouvi dos homens sobre o apuramento da Seleção feminina para o Mundial. Mesmo que bem intencionados. Nalguns casos soou a manifesto paternalismo. Uma espécie de ‘ai que giro, as meninas também jogam à bola’. Ou um discurso formatado com um sorriso de catálogo correspondente ao modelo ‘eu sou defensor do direito das mulheres’. Ao que me apetece responder, neste caso, «espero que não tenhas especial orgulho nisso, estás apenas a ser um humano decente».

A seleção feminina de futebol não é um número circense, uma coisa gira, uma moda. As jogadoras merecem elogios não por serem mulheres, mas porque jogam muito bom futebol; porque vencem; porque travam uma luta desigual pelo acesso aos grandes palcos: e porque demostram um enorme amor por Portugal.

Os homens, às vezes, conseguem até estragar o que são decisões justas em prol da liberdade das mulheres ao transformá-las em dádivas. O homem nunca deu nada às mulheres que não seja já delas por direito. Esquecendo até que um bom ponto de partida é deixar que sejam as mulheres a falarem sobre o exercício das suas liberdades em vez de tentar adivinhar…

Os homens nunca se devem orgulhar por uma liberdade reconhecida à mulher. Quanto muito, devem envergonhar-se por só agora o estarem a fazer.