Esqueçam lá o Ajax!

OPINIÃO21.02.202205:30

Aos portugueses faltará a típica arrogância holandesa para assumir decisões

Ésempre imprevisível, porém será surpresa enorme se um Benfica cheio de dúvidas, desmoralizado, construído e reconstruído em cima de equívocos, e ainda sem dar passos firmes que mostrem um rumo, eliminar em dois jogos um Ajax que é precisamente a sua antítese. Sim, o futebol recorda-nos que tudo pode acontecer - a Wunderteam austríaca, a Aranycsapat húngara, a Laranja Mecânica holandesa, o Brasil do Sarriá são míticas vítimas grandiosas de underdogs em Mundiais -, mas esquecendo o habitual cliché de a esperança ser a última coisa a morrer e a fé, sempre irracional, a lógica é que os holandeses se apurem com relativa facilidade. O que os amsterdammers fazem todos os fins de semana passará ao lado do adepto comum, que talvez já não tenha presente os jogos com o Sporting e só se lembre que existe um Ajax quando ouve um candidato a presidente dizer que quer modelo idêntico, porém não se iludam: os encarnados enfrentam rival que pode agudizar ainda mais uma crise sem fim.

Por falar em rumo, Benfica e Sporting, que muitas vezes dizem o nome Ajax em vão, tiveram oportunidade para criar filosofia semelhante, todavia, tenha sido por falta de paciência ou de coragem, não o conseguiram, mesmo com viveiros em Alcochete e no Seixal. Talvez tenha faltado organização e, sobretudo, a arrogância característica de um povo habituado a contornar a natureza e um mar que entra casas dentro, e a garantir o próprio espaço, que transporta para as decisões e para dentro de campo. A arrogância para apostar na juventude, trabalhar um modelo transversal a todos os escalões, à margem do momento e resultados,  assumindo fases e gerações menos boas, e apostar em aquisições cirúrgicas, âncoras para os mais novos. E coragem para chamar ex-jogadores e formá-los como técnicos e dirigentes, só possível para quem há muito conhece o caminho.