OPINIÃO Esqueçam Gyokeres
Manuel Fernandes nunca poderá ser termo de comparação no Sporting para alguém
Nasci a 14 de dezembro de 1973 e a partir 14 de dezembro de 1986 passei a ver o meu dia associado ao dia em que o Sporting venceu o Benfica no Estádio José Alvalade por 7-1, para o Campeonato Nacional. Os amigos faziam questão de mo recordar, mais os sportinguistas do que os benfiquistas, naturalmente.
Nessa tarde de 1986 um jogador sobressaiu mais do que todos os outros: Manuel Fernandes. O ponta de lança nascido na margem sul do Tejo, em Sarilhos Pequenos, já era desde há muito um ídolo dos adeptos, mas naquele dia 14 de dezembro foi ainda maior, marcou quatro golos.
Tinha aquele brilho especial de quem brilha por ele mesmo e não pelo o que os outros pensam e dizem dele.
Mais tarde, miúdo de 20 e poucos anos, a trabalhar no jornal A BOLA, conheci Manuel Fernandes; o homem, não o jogador. Embora não tenha convivido muito com ele, fiquei com a imagem e a certeza de que o Manuel era como pessoa o que foi como profissional de futebol: de ações, processos e palavras simples, de origens humildes que fazia questão de ter como referência para o dia a dia. Tinha aquele brilho especial de quem brilha por ele mesmo e não pelo o que os outros pensam e dizem dele. Apesar da reverência, pensei algumas vezes como parecia tão acessível e genuíno este Manuel em contraste com o Manuel que imaginara lá tão alto, o eterno capitão do Sporting, com uma carreira de 257 golos marcados em 433 jogos pela equipa de Alvalade.
Falei com ele várias vezes em trabalho e em todas elas ele falou comigo como se me conhecesse de sempre, o que sabia muito bem e me acolhia, embora tivesse a consciência que era simpatia e amizade pelo jornal A BOLA, que lhe acompanhou a carreira. Tive inclusivamente o prazer de partilhar o relvado com ele, num dos muitos jogos que a malta do jornal organizava para se divertir e de alguma forma nos faziam sentir que partilhávamos todos o mesmo balneário. Desse jogo, não me lembro de muitos pormenores, mas recordo que o Manuel, quase sem correr, marcou-nos dois ou três golos, um de livre, em que segui a bola como se estivesse a ver o lance na televisão.
O Manuel Fernandes foi um enormíssimo jogador, o Manel é inigualável. Mesmo que na fase final da sua vida tenha assumido algumas posições menos lúcidas em defesa do seu grande amor, o Sporting. E a maior delas, na minha opinião, foi quando disse que Gyokeres é o melhor ponta de lança que o Sporting já teve depois dele. Percebo a ideia, mas não, Manel: nunca poderás servir como termo de comparação. Nem Eusébio no Benfica, ou Fernando Gomes no FC Porto.