Erro, engano e ilusões
Papoilas e girassóis, a página de opinião de Bagão Félix
As ainda só quatro jornadas do campeonato já nos deram uma ideia de como se poderá passar toda a competição. Não tanto e apenas pelos casos híper comentados, mas mais pelas suas causas. O erro existe e existirá sempre. Como tal, fazendo parte da natureza humana, torna-se um dever aprender com o erro. O que já não é compreensível é o erro do erro, a persistência e a teimosia do erro normalmente associadas à diluição da responsabilidade e à atribuição da culpa sempre a um qualquer indefinido outro.
A culpa quase sempre morre solteira. Por exemplo, a estória do penálti, que permitiu ao Porto virar o resultado no jogo com o Rio Ave, e que nenhuma imagem comprova (caso contrário, o operador, esse solícito operador logo a mostraria…) conduziu por certo à culpa de uma qualquer câmara inexistente e, portanto, de ninguém. Isto para já não falar, na semana seguinte, sobre a novel inteligência artificial que gere as tomadas do Dragão. Para além do erro, o que me causa mais aversão no futebol doméstico é a condescendência para com a batota, o truque, o fingimento, ao ponto até de haver quem “justifique” a normalidade dessas práticas.
O tempo de compensação tem uma zona mista (tomo licença para roubar esta expressão às assoalhadas dos estádios) que consiste em deixar ao critério do árbitro a avaliação do tempo perdido no que dantes se chamava “queimar tempo”. Não compreendo que os árbitros sejam complacentes com estas situações, agora que têm ao seu dispor meios para as punir. Se fossem devidamente advertidas as demoras nos lançamentos laterais, na reposição e na marcação de faltas, nas fitas por simuladas faltas ou lesões (a única coisa que se vê é o amarelo da praxe dado ao guardião aos … 89 m.), o tempo útil aumentaria, o jogo seria melhor e o produto seria mais vendável.
Em particular, simulações grosseiras de penálti deveriam ser sempre punidas com cartão amarelo ou até, no limite, vermelho. Podem crer que desapareceriam rapidamente os Taremi do campeonato. E desapareceriam também as fitas de, em jogadas em que se levanta o braço numa bola alta, o “agredido” se rebolar todo na relva com as mãos na cara e as imagens a mostrarem um toque acidental noutra parte do corpo (era, aliás, uma especialidade do saudoso Otávio). Está generalizada esta batota com os árbitros a deixarem levar-se constantemente. E já nem falo das multinhas de cacaracá que são tudo menos dissuasoras. Devemo-nos conformar com isto? Não, basta compararmo-nos com o campeonato inglês, agora que se fala tanto da venda por grosso dos direitos televisivos dos jogos da Liga.
P.S. Gostei da atribuição à equipa do Benfica do Prémio Neno Fair-Play, que distingue a equipa com maior desportivismo e ética desportiva. Afinal, não é tudo igual. E ser campeão e mais exemplar são dois títulos compatíveis!
A Liga dos últimos
Dos últimos minutos, entenda-se. Os tais dos descontos. Ou melhor, dos tempos de compensação. Para o FCP, literalmente… de compensação. Ainda só vão 4 jornadas e têm já quase 5 jogos disputados. Aliás, por pouco o golo do empate do FCP contra o Arouca não foi já na 5ª jornada. No total, comparando o Benfica e o Porto, os azuis e brancos tiveram mais 25% de tempo extra no total das duas partes e mais 27,3% na segunda e determinante metade. No conjunto dos 4 jogos já disputados, os portistas somaram no tempo de compensação 6 dos 10 pontos que têm (3 contra o Rio Ave, 2 contra o Farense e 1 contra o Arouca). Seguem-se-lhe os leões com 2 pontos dos 10 alcançados (2 contra o Farense), e os bracarenses com mais 1 ponto do que os 7 registados (menos 1 contra o Famalicão e mais 2 contra o Moreirense).
Só o Benfica perdeu pontos “depois da hora”: 1, no Bessa. Certamente por pura coincidência, o jogo do FCP menos estendido (9 minutos) foi aquele em que, na jornada inicial, estava a ganhar. Nos outros três, ou estava a empatar ou mesmo a perder, neste último caso atingindo-se, pois então, um tempo correspondente a 73,3% de um prolongamento a eliminar! E com o claro benefício desportivo do infractor, neste caso o FCP, pois que o jogo esteve parado 5 minutos não por culpa dos arouquenses, não por qualquer lesão, mas por causa de uma grosseira batota de Taremi, o que permitiu estender o tempo para marcar o golo do empate. Por outras palavras, valeu a pena o iraniano fingir descaradamente um penálti mesmo que revertido. E nem um amarelo o homem levou. Se isto é ético, o que é que não é? Termino por agora. É que não tive 22 minutos para escrever este texto, apesar de simular tomar mais um cafezinho.
Favas contadas - Dilema crescente
Segundo o Football Observatory (CIES), nos últimos 10 anos, o Benfica foi, de longe, o clube europeu com mais saldo positivo entre vendas e aquisições de direitos de jogadores (764 milhões!). O SCP (376 m.) e FCP (352 m.) também estão bem colocados (5º e 6º lugares). Acontece que os gastos operacionais excedem largamente os rendimentos, se não considerarmos as tais vendas e ouro da mina da Champions. As elevadas folhas salariais precisam sempre destas receitas arriscadamente incertas. Eis o mais difícil dilema dos clubes, eternamente procrastinado na vertigem da semana seguinte. Voltarei ao assunto.
A má forma de Taremi
Lembrei-me desta certeira e bem-humorada asserção quando Taremi voltou ao seu melhor teatro. Neste caso, adaptei a frase para “o perigo do meio-penálti é mostrar exactamente a metade que é falsa”. Vê-se que o iraniano está em nítida baixa de forma. Não tanto por ainda não se ter estreado a marcar golos, mas muito mais por fazer de conta tão desastradamente. Corre o risco de alguns árbitros não serem capazes de conseguir marcar tais “penáltis”. E percebe-se por que razão, afinal, Taremi não foi para Itália…