Ensaios no torneio da humanidade

OPINIÃO18.10.201904:00

Hagibis e os canadianos

Como é do conhecimento público, o Japão foi vítima do maior tufão dos últimos sessenta anos, o qual lavrou um profundo rasto destrutivo, matando dezenas de pessoas, além de ter causado enchentes e deslizamentos de terras. O tufão chamado Hagibis (nome que significa «velocidade» num dialecto filipino) provocou também o cancelamento de três jogos a contar para o Campeonato do Mundo de Râguebi, o qual está ainda a decorrer, precisamente no Japão. Um dos desafios em causa opunha o Canadá à Namíbia. O tufão impediu o jogo mas não levou consigo a coragem e a consciência cívica da equipa canadiana, a qual veio para a rua alistar-se em combate, nomeadamente ajudando nas limpezas. O que faz lembrar o espanto geral que causou o facto de a selecção nipónica, durante o último mundial de futebol, nunca abandonar o estádio onde tinha jogado sem deixar impecavelmente limpos e arrumados os respectivos balneários. No râguebi os rapazes canadianos até nem jogam nada de especial, mas já no torneio da Humanidade marcaram muitos ensaios.

Da simetria do mal

Em 25 de Setembro o FC Porto defrontou em sua casa a equipa açoriana do Santa Clara. Quase no final da partida Romário Baró teve de abandonar o terreno de jogo em lágrimas, como consequência de uma entrada estupidamente perigosa por parte de Fábio Cardoso (jogador que, aliás, já merecia ter sido convocado para a Selecção Nacional). O jovem dragão sofreu um «traumatismo direto no tornozelo direito com hematoma e entorse», estado clínico esse que, desde então e até ao momento, o impediu de voltar a jogar. O que faz trazer à colação uma proposta que, embora não sendo absolutamente original, nem por isso passa a menos pertinente. Esta: quando um jogador lesione outro, independentemente de qualquer sanção com que venha, ou não, a ser punido, logo durante o jogo pelo árbitro, ou subsequentemente pelos competentes órgãos corporativos, deve o jogador faltoso permanecer impedido de voltar a jogar até que o jogador por si lesionado seja considerado como clinicamente apto para voltar a competição.

Atlas

Quando se fala de Atlas podemos estar a falar de um quase infindável leque de diferentes realidades. Nestes termos, Atlas pode ser uma referência da geografia (a cordilheira montanhosa marroquina com o mesmo nome), da mitologia (um dos titãs condenados por Zeus, também conhecido por Atlante), da cartografia (enquanto acervo de mapas) ou da biologia (nome de uma borboleta e de um cão). Mas não pertence a nenhuma destas espécies aquilo que quero invocar. Pretendo, sim, lembrar que, segundo a anatomia, Atlas é a primeira vértebra cervical. E também a primeira das 33 vértebras da coluna vertebral. Ora, é exactamente esta que nos permite acenar com a cabeça em sinal de concordância ou discordância. E poder dizer sim ou não é a essência da natureza humana. Por isso aquela vértebra deveria chamar-se Liberdade. Em português, castelhano, catalão ou qualquer outra língua.