Opinião Em tempo de Natal, é altura de trocar os casos pelas causas
Palavra de Gverreiro é uma rubrica quinzenal
No sapatinho do futebol português coloco a visão de um futuro que urge construir, com a ambição de um futebol à altura das suas potencialidades, capaz de reconciliar adeptos e protagonistas, valores e indústria.
Um futebol que não apenas sobreviva, mas que floresça como expressão cultural, ética e social.
Sonho com um futebol em que os casos sejam exceção e não regra, em que o ruído não abafe os cânticos dos adeptos e em que a confusão dê lugar à clareza de propósitos.
Não podemos continuar reféns de polémicas que descredibilizam as competições, afastam os espectadores e envenenam as conversas em torno do jogo.
A partir de 2025, precisamos de um futebol que seja causa e exemplo.
Esse futebol não pode ser, apenas, o reflexo de um espectáculo, mas uma escola de valores. Deverá saber que a bola não se joga apenas dentro das quatro linhas, mas, também, no impacto que tem nas comunidades. Um futebol de responsabilidade social, que inspira as crianças, educa os jovens e é motor de inclusão e desenvolvimento. Um futebol que, ao plantar os seus pés na terra, não esquece o coração que bate em cada adepto.
Para isso, a governança da modalidade precisa de um sobressalto ético.
Transparência e integridade não podem ser bandeiras empoeiradas num canto do estádio. Têm de ser os pilares de uma estrutura onde dirigentes, clubes, Liga, Federação e demais organizações desportivas compreendem que o adepto não é apenas consumidor, mas o centro de todas as decisões.
Os espetáculos só serão melhores e as competições mais equilibradas se a justiça desportiva funcionar, se os regulamentos forem claros e se todos os agentes agirem com o espírito desportivo que tanto apregoam.
Este é o futebol pelo qual temos de pugnar em Portugal: um futebol que valoriza a indústria sem vender a alma; que compreende que melhores espetáculos trazem mais e melhores públicos e, com eles, melhores patrocinadores e parceiros comerciais; que sabe que, ao promover a excelência e a competitividade das equipas e competições, atrai novos adeptos e resgata os antigos.
Precisamos de campeonatos onde o talento, e não os interesses obscuros, sejam o motor do jogo, onde o desequilíbrio crónico entre grandes e pequenos dê lugar a uma competição que honre o mérito e não as desigualdades estruturais, onde as bancadas deixem de estar meio vazias porque o espetáculo em campo já não as apaixona.
No sapatinho do futebol português coloco o sonho de um jogo que seja mais do que um passatempo. Um espelho daquilo que somos e, sobretudo, daquilo que queremos ser: um futebol de causas, um futebol que sabe sonhar e, mais importante, um futebol que sabe fazer.
A partir de 2025, há espaço para mudar o rumo e reencontrar o caminho. Que o façamos com coragem, visão e respeito pelo que o futebol pode representar.
O desafio é grande, mas os sonhos, quando partilhados, têm força para se tornar realidade.