Efeito e consequência
Roger Schmidt (Foto: IMAGO)
Foto: IMAGO

Efeito e consequência

OPINIÃO24.09.202309:35

Por que motivo os jogadores do Benfica cometeram tantos erros? Tem a ver com a liderança do treinador desde a pré-época

A Liga dos Campeões é a competição onde estão presentes as melhores equipas. Todos têm a consciência que qualquer erro pode ser fatal numa competição desta dimensão. Nem todos têm a capacidade de tomar as melhores decisões. Existem momentos em que parece que é a sorte ou o azar que determinam a vitória ou a derrota. Nada mais errado, o sucesso no futebol nunca terá por base estes pressupostos!

Benfica: efeito e consequência

O Benfica perdeu uma grande oportunidade de começar a Liga dos Campeões com uma vitória. Frente à equipa com a média de idades mais baixa de sempre (21 anos e 183 dias) a experiência da equipa encarnada de pouco valeu. A história do jogo ficou marcada por muitos erros individuais. Os de Trubin, Bah, António Silva, Morato, Aursness foram os mais flagrantes mas houve muitas perdas de bola e precipitação, que não são normais. De uma forma simples, se o jogo tivesse sido marcado por apenas um erro individual seria algo fácil de alterar. Aqui a questão que os responsáveis encarnados devem analisar é: por que motivo a equipa cometeu tantos erros individuais num só jogo? Por que demonstrou tanto nervosismo? Na minha opinião, de quem já lá andou dentro, tem a ver com a liderança do treinador ao longo de toda a pré-época. A gestão do caso Vlachodimos foi terrível. A forma como o culpabilizou publicamente e como o despachou rapidamente de forma a poder lançar Trubin foi um claro erro de liderança, apoiado por toda a administração. Não só a equipa ficou mais frágil porque perdeu uma solução viável para a baliza, como Trubin também fica mais exposto e pressionado. Alguém tem dúvidas de que Trubin iria evoluir mais se tivesse Vlachodimos por perto, a titular ou no banco? Basta olhar para a evolução de Diogo Costa, que cresceu com Marchesin na retaguarda, ou Rui Patrício, que tinha Stojkovic (titular da baliza da Sérvia) como concorrente. Para piorar o cenário, enquanto que nos dois guarda-redes portugueses, tanto Sérgio Conceição como Paulo Bento sentiram que os dois jovens estavam preparados para assumir a titularidade, com as respetivas dores de crescimento associadas, no caso do Benfica não me parece que Roger Schmidt tenha a mesma capacidade de avaliação porque só trabalha com Trubin há um mês. Por todos estes motivos, a forma como se geriu o dossier Vlachodimos deixa marcas na posição de GR e no restante grupo. Morato é outro exemplo. Um jogador que poderia ter sido vendido por 25M€ para um clube da Premier League e que o Benfica não aceitou negociar, prometendo-lhe minutos e referindo que seria um jogador importante. A questão é que depois de uma boa pré-época, Otamendi treina duas semanas e assume a titularidade nos jogos oficiais. Como se deve sentir Morato? A realidade é que entrou com o Boavista e o Salzburg e, nos dois jogos, cometeu dois erros importantes. Depois de, no ano passado, se ter afirmado no início da época e de uma pré-época muito boa, este ano, o que pode justificar esta quebra de rendimento sempre que é chamado? Parece-me óbvio que a resposta é a liderança do treinador, que faz com que o jogador não se sinta parte integrante do plantel ou um jogador importante como lhe tinham prometido. Arthur Cabral é outro caso estranho. Custou 20M€ e foi contratado praticamente no dia em que o Benfica vendeu Gonçalo Ramos. No último jogo com o Benfica, a perder por 0-2, Schmidt tira Musa (que tem estado muito bem e ganhou o lugar com mérito) e coloca Tengsted, num jogo que estava partido e que encaixaria melhor nas caraterísticas de Arthur Cabral. Tengsted tem mais experiência que o jogador brasileiro? É mais desequilibrador? Então qual o motivo desta decisão? E Neres? Porque motivo Roger Schmidt não dá mais minutos ao jogador brasileiro que tem agitado o jogo sempre que entra? Será que Neres se sente um jogador importante? Jogar 5 minutos em Vizela, com um jogo que estava dominado pelo Benfica, é motivador e passa a mensagem correta ao jogador brasileiro? Estes são alguns exemplos que ajudam a perceber o motivo pelo qual os jogadores do Benfica demonstram intranquilidade e nervosismo. Ainda estamos no início e há muito para contar, mas é importante que RS perceba que as suas decisões têm um efeito e consequência, sendo que, este ano, tem no banco jogadores que exigem mais oportunidades e que o ambiente do balneário é determinante para o sucesso desportivo.

FC Porto: efeito e consequência

O FC Porto venceu o Shakhtar de uma forma clara. A receita foi simples. Estrategicamente jogou no erro do adversário, com uma pressão alta de forma a não o deixar sair a jogar. Cometeu alguns erros, nessa pressão, que permitiram ao Shakhtar sair para o ataque com espaço, por diversas vezes. A realidade é que Sérgio Conceição sabia que a sua equipa era superior. O seu plano resultou. Marcou dois golos que tiveram início em bolas ganhas no meio campo adversário. Teve os índices competitivos ideais e a concentração necessária para trazer uma vitória para o Dragão. O jogo foi perfeito? Longe disso! Depois de algumas exibições esforçadas, sem a qualidade que o Porto pode apresentar, a equipa azul e branca fez um jogo racional e objetivo. Na Liga dos Campeões é o que se pede. A qualidade de jogo virá com uma boa sequência de vitorias, que irão trazer a confiança que os jogadores necessitam.

Félix: efeito e consequência

Temos falado muito sobre o percurso do João. A sua qualidade nunca esteve em causa, mas as suas decisões sim. O que este início de época nos vem provar é que o seu ingresso no Barcelona foi a melhor decisão que tomou na sua carreira. Recuperou a alegria e confiança a jogar futebol. Encontrou uma equipa que tem o seu ADN. Dentro do relvado consegue potenciar todo o seu futebol porque tem muita capacidade e também porque ao seu lado tem jogadores que o potenciam: Lewandovski, que o entende e que o faz brilhar na forma como lê os seus movimentos e passes, e um meio campo onde despontam Gundoghan, Gavi, Pedri, Frenkie de Jong… A sua tomada de decisão no relvado tem sido incrível. De uma forma simples, as decisões que tomou, fora do relvado (ingresso no Barcelona) e dentro das quatro linhas, têm sido muito elogiadas e a consequência pode ser a sua afirmação em definitivo como craque de nível mundial. A consistência e regularidade são o passo que se segue.

Sporting: efeito e consequência

Rúben Amorim passou com distinção o teste na Áustria. O primeiro objetivo era vencer o jogo. O segundo passava por rodar a equipa, por fazer descansar alguns jogadores e dar ritmo a outros. Para o treinador do Sporting é importante que todos sintam que são importantes, não só na teoria, mas também na prática. Rúben tem a noção que o ano é longo e que o ambiente de balneário (como referiu antes do jogo com Moreirense) é muito importante para atingir o sucesso. O jogo não foi fácil e exigiu um esforço adicional. O que me parece é Rúben Amorim ganhou mais do que apenas três pontos: rodou a equipa, deu ritmo a jogadores que irão ser importantes em muitos momentos da época, fortaleceu o balneário e validou o seu onze mais utilizado, porque foi a partir do momento que mexeu no jogo que a equipa melhorou. O efeito da sua decisão foi positivo, a consequência irá retirá-la no futuro!