Editorial: parte dos adeptos não reúne condições para ir a um estádio
D. R.

Editorial: parte dos adeptos não reúne condições para ir a um estádio

OPINIÃO04.02.202409:30

É pena a polícia fazer falta naquilo que devia ser uma festa

O descontentamento das forças policiais não constitui novidade. No decorrer das últimas semanas os protestos foram subindo de tom, impulsionados por regalias dadas à Polícia Judiciária que não abrangem profissionais da PSP e da GNR. Os sindicatos agruparam-se em plataforma e tentam manter a luta orgânica, mas os movimentos inorgânicos multiplicam-se e são facilmente potenciados pelo imediatismo das redes sociais. Entretanto, os agricultores cortaram estradas e o Governo libertou verbas. Terá sido a gota de água.

No dia em que uma manifestação de extrema-direita desceu, em Lisboa, do Largo de Camões à Praça do Município (não terá juntado mais de uma centena de indivíduos), as parangonas acabaram por virar-se para o adiamento de um jogo da Liga devido a baixas médicas de polícias destacados para a segurança do evento. Pode ter sido coincidência. Seja como for, concordemos que adiar o jogo de um clube grande, colocar outro em causa (o FC Porto-Rio Ave acabou por realizar-se) e deixar em suspenso pelo menos outros dois para este domingo, um deles do emblema de maior expressão popular, é algo bastante mais visível, e daí o aparato noticioso.

Aos polícias, como aos militares, está vedado legalmente o direito à greve, por motivos atendíveis. Não cabe aqui discutir a legitimidade dos protestos policiais em curso, embora eles levantem sérios sinais de preocupação. Cabe, porém, uma constatação inequívoca: parte do público que acorre aos estádios, em Portugal, não reúne condições para assistir a um espetáculo desportivo. Sabemos disto há muitos anos. Fala-se, negoceia-se, legisla-se e por vezes até se age judicialmente, embora de mansinho e quase sem fazer doer. A verdade é que um pequeno grupo de pessoas pode gerar episódios de violência como os de Famalicão. É pena a polícia fazer falta naquilo que devia ser uma festa. Naquilo que Portugal gostava de exportar para o Mundo em modo de direitos televisivos.