Editorial: Avassalador!
A Seleção fez-me lembrar um bocadinho o futebol que jogámos em 2000 e 2004
Os números são verdadeiramente avassaladores e os números, mesmo podendo esconder alguma coisa, dificilmente enganam quando somados ao cabo de oito jogos. Nesta qualificação já garantida para o Euro-2024, Portugal leva oito vitórias, 32 golos marcados, apenas dois sofridos, 1.º lugar do grupo, e acaba não apenas de silenciar o inferno de Zenica - cidade onde a Bósnia costuma receber adversários mais poderosos por causa do ambiente hostil e intimidante que costuma criar num estádio velho e realmente assustador -, como ainda cometeu a proeza nunca antes vista na história da Seleção de chegar ao intervalo a vencer por esmagadores 5-0!
Os números são os números e nem sempre explicam tudo, mas desta vez, mesmo tendo em conta o nível dos adversários no grupo e o irregular futebol jogado pela equipa portuguesa, é impossível diminuir o que a Seleção Nacional de futebol acaba de conseguir, garantindo, a duas jornadas do fim da qualificação do Grupo J, o 13.º apuramento consecutivo, desde 2000, para as grandes competições internacionais (Europeu e Mundial).
Eu, que não vi jogar a Seleção de 1966 (a famosa e inesquecível dos magriços, que alcançou o 3.º lugar no Mundial jogado em Inglaterra), o futebol jogado pela equipa das quinas que mais me encantou, confesso, foi o das fases finais dos Europeus de 2000 e 2004 (o primeiro levado até às meias-finais, o segundo até à famigerada final perdida, no Estádio da Luz, para a Grécia).
Falo, em ambos os casos, do futebol que a Seleção jogou e não necessariamente dos resultados atingidos, porque a vitória no Euro-2016 é naturalmente o ponto mais alto de sempre, longe, porém (creio que é consensual), de ser o nosso melhor futebol de sempre.
Dito isto, e sem mais considerações, a primeira parte de Portugal, agora, em Zenica, frente a uma seleção da Bósnia Herzegovina que não chegou a aquecer quanto mais a intimidar, foi do melhor que me lembro ver à Seleção Nacional num jogo fora de casa, onde tradicionalmente os portugueses raramente brilham. Muito bem o selecionador Roberto Martínez a aproveitar o talento, o conhecimento e a experiência de João Cancelo para o posicionar como médio interior e assim baralhar por completo o adversário, muito bem sobretudo Danilo e Otávio na cobertura, muito bem Bruno Fernandes e João Félix a inventar o espaço, muito bem Cristiano Ronaldo na dimensão perfeita entre o espírito coletivo e a iniciativa individual, muito bem toda a equipa, com a nota excecional de nem ter precisado, desta vez, daquele que, a meu ver, é o melhor futebolista português da atualidade, Bernardo Silva, apesar, evidentemente, de toda a subjetividade desta minha nomeação.
Em novembro, Portugal procurará fechar de forma limpa, diria, este seu percurso na qualificação para o próximo Europeu, a jogar a partir de junho na Alemanha, de que a Seleção guarda, apesar de tudo, algumas boas memórias - o golo de Carlos Manuel, em Estugarda, que nos qualificou para o Mundial-1986, e as meias-finais no Mundial-2006, ainda com o sargento Luiz Felipe Scolari.
Os jogos com Liechtenstein (fora) e Islândia (em Alvalade, para a festa pedida por Martínez) não vão impedir Portugal de manter o excecional registo de vitórias em todos os jogos, capítulo no qual, nesta fase de qualificação, apenas a França nos acompanha (maldita seleção francesa, sempre a perseguir-nos…)!
Por fim, a sete meses, sensivelmente, de Martínez divulgar a escolha final de jogadores para o Euro-2024, todas as contas de cabeça serão sempre, apenas, contas de cabeça, mas se nada de verdadeiramente anormal suceder até lá (e bem sabemos como o futebol é o momento), creio que o selecionador tem encontrado o grupo de 23 que poderá designar para a competição na Alemanha.
É um exercício especulativo como qualquer outro, mas se me é permitido o palpite, dos 23 que estiveram na ficha de jogo na Bósnia (onze titulares e 12 no banco), se houver duas trocas… será muito!