E Ronaldo volta a Madrid
ATLÉTICO-JUVENTUS em Madrid. Com Ronaldo de volta. É um regresso especial num choque que se antevê brutal. Física e taticamente brutal. De um lado, o bloco Atlético rendido (e submetido) ao pragmatismo espartano da filosofia instituída por Diego Simeone - o cholismo. Ou uno cerismo, como dizem certos comentadores. Um futebol nada agradável à vista, em minha opinião. Do outro, o temível bloco da corpulenta Juventus, a equipa italiana mais física, mais disciplinada, mais experiente, mais guarnecida de grandes jogadores, numa palavra: mais letal. O grande treinador que é Massimiliano Allegri, não sendo um Guardiola estará, em termos estéticos, um ou dois patamares acima de Simeone, mas a sua grande vantagem nesta eliminatória é poder contar nas suas fileiras com a maior figura da história da Champions: Ronaldo. Trocando por números: 6 finais, 5 títulos, 11 meias-finais, 158 jogos e 121 golos ao serviço da Senhora. Uma lenda viva e atuante de quem a Juventus espera ajuda crucial no ataque ao título europeu depois da embaraçosa série de cinco (!) finais perdidas, em 1997, 1998, 2003, 2015 e 2017.
Como irá CR7 ser recebido no Wanda Metropolitano, o estádio onde se vai jogar a final da prova? Por um lado, os adeptos do Atlético hão de valorizar o facto de Cristiano ter voltado aos costas ao Real, o eterno inimigo da casa. Por outro, não há fã colchonero que não tenha presente as múltiplas maldades que Ronaldo lhes tem feito. O Atlético passou quatro anos consecutivos a ser eliminado pelo Real Madrid, na Champions quase sempre com CR7 em modo decisivo, e essa é uma ferida - uma chaga! - em aberto. Lembremos o calvário atlético para melhor enquadrar o regresso de hoje. Em 2014, derrota na final de Lisboa, com o último golo marcado por Ronaldo; em 2015, eliminados nos quartos de final; em 2016: outra derrota na final, em Milão, com o penálti decisivo concretizado pelo português; em 2017, eliminados na meia-final com um espantoso hat trick (3-0) de Cristiano a resolver a questão logo no Bernabéu.
Que Ronaldo devemos esperar na hora do regresso a um estádio de Madrid depois de bater com a porta na cara de Florentino? Sublinho estádio porque Ronaldo, em janeiro passado, esteve em Madrid acompanhado de Georgina a pagar uma multa de quase 19 milhões para não ir preso por fraude fiscal e ficar com cadastro (mais um dos vários profissionais portugueses que fizeram mal as contas na passagem pela casa branca…). A Imprensa de Madrid afeta aos brancos, percebe-se, tem valorizado um pouco por baixo o papel de Cristiano nesta Juventus (21 golos e liderança indiscutida no campo). Talvez para não melindrar os jogadores merengues e o próprio Florentino Pérez. Mesmo que a maioria dos jornalistas e dos colunistas afetos ao Real continue a guardar Cristiano no coração - Tomás Roncero no As, por exemplo - há um azedume no ar que sugere uma ferida difícil de sarar. Os jornalistas afetos ao Atlético temem sobretudo a vontade de Ronaldo dar mais um golpe de autoridade na cidade onde brilhou durante nove anos. Ele é o pesadelo colchonero personificado, com 22 golos em 31 jogos. Veremos o que acontece hoje, sendo certo que esta é a primeira parte de uma eliminatória previsivelmente tensa e renhida que, atenção!, também pode significar para Ronaldo o primeiro insucesso na Champions ao fim de três anos seguidos a ganhar. Convém não esquecer que o Atlético, como a Juventus, também perdeu duas finais em anos recentes. O que significa que tem capacidade para chegar à final outra vez. Ainda por cima em casa…