É preocupante!
Pode o futebol de hoje resistir a tantos e tão graves erros da videoarbitragem?
A questão não é se o futebol está melhor depois da criação do VAR; a questão é como apesar de haver VAR se cometem, afinal, ainda tantos erros. Essa é a questão. Que o futebol está melhor com a videoarbitragem, ninguém, evidentemente, contesta. Também era melhor que não estivesse. Mas mesmo com a videorbitragem têm sido cometidos tantos e tão graves erros no futebol que o adepto não acredita. E esse é um problema difícil de entender e, sobretudo, de explicar.
Se os árbitros são profissionais e têm obrigação, por estatuto, qualificação e competência, de tornar mais verdadeiro o que se joga e como se joga num campo de futebol, sobretudo ao mais alto nível competitivo, então por cada erro grave que possam cometer na videoarbitragem deveria corresponder uma punição exemplar financeira e desportivamente. Ainda se entende quando os lances avaliados são subjetivos - agarrão mútuo, contacto alegadamente inevitável, duelo dividido na luta pela bola, carga com mais ombro ou menos ombro, enfim, são naturalmente muitas as jogadas de análise mais difícil, e isso percebe-se. Mas como compreender quando a falta é objetiva?
No campo, o árbitro terá sempre alguma desculpa, alguma atenuante. Não viu, não lhe pareceu, foi tão rápido que ficou confuso, por milésimo de segundo equivocou-se. A história do futebol, sem auxílio das tecnologias, é tão imperfeita como a própria história de todos nós. Não fez Maradona um golo com a mão no Mundial do México, em 1986, vindo, depois, a tornar-se campeão do Mundo?
Mas as novas tecnologias permitem hoje dar ao jogo mais verdade desportiva, tendo em conta que o jogo se tornou, entretanto, muito mais um espetáculo televisivo e passou a exigir, também por isso, que o tribunal do vídeo pudesse julgar as infrações do jogo de forma justa e rápida.
Se, no campo, o árbitro continua a ter, pois, algumas atenuantes, o vídeo árbitro não tem desculpa a não ser por qualquer problema ou falha da tecnologia. Tem tudo ao dispor: as imagens, o tempo, as repetições. E levanta a questão: como pode não ver o que toda a gente vê?
No Sporting-Casa Pia desta época, inédito o erro do videoárbitro, que falhou grosseiramente na colocação das linhas do fora de jogo e permitiu que fosse válido o golo irregular de Paulinho; no Farense-Sporting do último fim-de-semana, outro exemplo de erro grosseiro do videoárbitro ao decidir (como foi possível?) confirmar uma grande penalidade inexistente sobre o sportinguista Edwards e assim permitir aos leões chegar à vitória.
Queixa-se, por outro lado, o Benfica, e justamente, de uma grande penalidade não assinalada em Milão, no jogo com o Inter, que o videoárbitro devia ter visto e não viu (como é possível?) por clara rasteira de Barella na perna direita de David Neres, quando o resultado estava ainda em 0-0. E pode, igualmente, queixar-se o FC Porto de uma grande penalidade não assinalada por puxão de camisola de Jules Koundé a Taremi, no jogo com o Barcelona. Puxar a camisola, rasteirar a perna, colocar mal as linhas do fora de jogo, ver Edwards ir ao encontro da perna do adversário e não o adversário ir ao encontro do pé de Edwards, não tem nada de subjetivo. São erros graves porque os lances avaliados são objetivos. Por negligência, incompetência, distração, impre- paração ou qualificação inadequada, têm-se sucedido erros tão inacreditáveis que arriscam, na verdade, fazer profundamente mal ao jogo e colocar em causa (não como esconde-lo) a credibilidade do próprio jogo.
O futebol que se joga ao mais alto nível, nas principais Ligas e nas grandes competições internacionais, não pode admitir, hoje, com a tecnologia ao dispor, falhas tão grosseiras. Elas matam o jogo. Como exigir que o protocolo do VAR seja alargado a mais situações do jogo quando as poucas que estão protocoladas já suscitam tanta controvérsia e incredulidade?
São ainda demasiados os casos que nos têm deixado perplexos, e as referências a algumas situações mais evidentes e recentes servem para ilustrar a mais do que compreensível desilusão e angústia dos adeptos.
Sublinho: num momento em que já devíamos estar apenas concentrados nas teses sobre o alargamento da ação da videoarbitragem sobre o jogo, ainda nos debatemos, afinal e lamentavelmente, na injustificada quantidade de erros cometidos pelos árbitros que julgam na privacidade de uma sala equipada com todas as condições, altamente tecnológica e muito dispendiosa. Um luxo que obviamente já trouxe muito de bom ao jogo, mas que, por maior que pareça o paradoxo, continua a falhar de forma incompreensivelmente gritante, como voltámos a ver esta semana, em claro prejuízo de Benfica e FC Porto, que viram duas grandes penalidades por assinalar (em Milão e no Porto) quando os seus jogos da Champions (com Inter e Barcelona) estavam ainda 0-0.
Só isso explica as derrotas de encarnados e azuis e brancos? Não, evidentemente que não. Mas não me venham com a conversa de que um erro do árbitro é como um erro de um jogador e que se os treinadores erram os árbitros também podem errar. Dantes isso ainda era tema. Agora já não. Já não é comparável o que se vive no campo com o que se vive na sala da videoarbitragem. Pior: repare-se como a grande maioria dos mais graves erros cometidos hoje no futebol pela arbitragem têm, todos, o cunho do videoárbitro.
É muito inquietante!
Já passou, entretanto, uma semana, e talvez muitos não tenham dado por isso, mas o Dragão de Ouro Rui Moreira (distinguido em 2010 como Sócio do Ano e, já mais recentemente, na qualidade de líder da distinguida Câmara Municipal do Porto) parece não ter tido direito a convite para marcar presença na Gala dos Dragões de Ouro com que o FC Porto celebra o aniversário ou então declinou o convite que eventualmente lhe terá sido feito.
Em qualquer caso, a verdade é que a ausência de Rui Moreira não podia deixar de ter sido a mais notada, tratando-se de um homem da cidade e do clube desde sempre.
Confesso admirador do presidente do FC Porto, adepto de bancada e acérrimo defensor do emblema, agora também membro do Conselho Superior dos azuis e brancos e ainda o presidente que voltou a abrir ao clube, e às celebrações do clube, as portas da Câmara Municipal da cidade (durante anos fechadas por Rui Rio, seu antecessor), Rui Moreira foi parecendo ao longo dos últimos anos das poucas figuras consensuais de um Norte cada vez com menos referências públicas.
Honra lhe seja, Rui Moreira nunca teve realmente medo de dizer o que pensa sobre a vida da cidade e do FC Porto, mesmo quando aconselharia o bom senso que tivesse evitado alguns dos comentários que fez ultimamente, em particular sobre o treinador dos dragões. Não lhe ficaram bem, porque ainda que se sinta um adepto comum, Rui Moreira sabe (com todo o respeito) que deixou de ser um adepto como outro qualquer.
Desconheço se Rui Moreira esteve (como de costume) ou não, no Estádio do Dragão, na última quarta-feira, a assistir ao FC Porto-Barcelona. Pelo menos, não dei conta que tenhas estado (como era mais habitual) num dos lugares de destaque da Tribuna Presidencial.
Seja como for, e mesmo admitindo a possibilidade de compromissos políticos o terem impedido de ser visto num e noutro lugares, a verdade é que a ausência, sobretudo, da Gala dos Dragões de Ouro será, muito provavelmente, resultado do ambiente hostil que parece estar reservado ao presidente da Câmara da cidade na relação com as mais altas figuras do FC Porto depois do líder da autarquia ter dito o que disse recentemente do treinador, acusando-o de ser um «falhado» e sem «fair-play».
Na gala dos Dragões de Ouro, aliás, nem Rui Moreira nem o treinador portista estiveram, afinal, no Coliseu da cidade, mas Rui Moreira não estava, como o treinador, em Lisboa a preparar o clássico com o Benfica, jogado no dia seguinte.
Resta saber se o divórcio de Rui Moreira, figura pelo menos até há pouco tempo tão estimada pelo universo portista, é apenas com o treinador ou também, e finalmente, já com a liderança estrutural do clube, a pensar na agitação que não deixará de surgir quando, no próximo ano, se atacarem as eleições para a presidência do FC Porto.
A meio da década passada, Rui Moreira não tinha dúvidas. «(…) Muito do renascimento do Porto tem que ver com o que o clube tem feito. Se todas as nossas atividades, indústrias e instituições estivessem ao nível do FC Porto, estaríamos muito melhor. O FC Porto é um exemplo», dizia o homem que foi capaz de conquistar a Câmara Municipal das cidade lutando fora dos aparelhos partidários.
O que mudou, entretanto? Rui Moreira ou o FC Porto? Ou alguém acredita que foi apenas a mudança dos tempos que fez com que mudassem as vontades?!...
PS: Ninguém, certamente, poderia prever que apenas o SC Braga viesse, esta semana, a salvar a honra do convento português nas competições da UEFA. Mas foi. O que também não deixa de ser preocupante!