É possível estarem todos felizes. Mesmo quem perde
A festa tomou conta das ruas da Alemanha (Foto: IMAGO)

É possível estarem todos felizes. Mesmo quem perde

OPINIÃO23.06.202409:30

A vitória de Portugal vista de outro ângulo

Mehmet Scholl, Altintop, Sahin, Emre Can, Gundogan. Podia enumerar mais, mas esta mão cheia de craques mostra o impacto da comunidade turca na seleção alemã e é representativa de um povo com um enorme assento na sociedade germânica, a segunda nacionalidade mais representada no país (ainda mais que os polacos). Tinha por isso a curiosidade de presenciar o ambiente de um jogo de futebol entre a Turquia e Portugal (outro país de emigração, mas de muito menor expressão no termo de comparação), num espaço público onde se reúnem milhares de pessoas, para entender como sofrem e vibram os turcos fora do contexto de um estádio. Na fan zone de Estugarda, cidade onde estão centradas para já as nossas operações, vi um enorme mar vermelho e apenas uns quantos adeptos de verde e vermelho, mas que quando tiveram de gritar golo fizeram-no (por três vezes) a plenos pulmões sem que eu tivesse assistido a qualquer sinal de animosidade – o único ponto negativo foi a retirada à força de um adepto por tentar acender uma tocha.

O que vi, por outro lado, foi uma certa simpatia e mesmo alguns sorrisos durante a segunda parte, confirmando o que Carlos Leal, português residente há 50 anos na Alemanha e casado com uma turca, me tinha dito nas vésperas do encontro de Estugarda: o público da lua crescente tem uma grande admiração pelo futebol português e não apenas por Cristiano Ronaldo, colocando a Seleção Nacional no topo da cadeia alimentar.

Não estranhei por isso o que assisti de seguida. Mesmo perdendo por 0-3, milhares de turcos meteram-se nos carros, colocaram as bandeiras de fora e apitaram pelas ruas de Estugarda como se tivessem conquistado o Europeu. Aqui e ali atravessava-se um carro com as cores de Portugal, produzindo o mesmo som das buzinas, aquilo que estes Europeus e Mundiais são durante boa parte do tempo: uma festa transversal que traz ao de cima o melhor que os povos têm para dar. Porque se fechássemos os olhos não conseguiríamos perceber quem é que estava feliz. Em boa verdade, estavam todos. Não há outro desporto que proporcione estas sensações.