OPINIÃO É a economia de mercado, estúpido
Mais do que o que ainda procuram, a preocupação dos treinadores será o que ainda podem perder até final da janela de mercado, já em plena competição. Onde está a justiça deste modelo?
Vamos pela ordem classificativa da época anterior: o Sporting precisa de um avançado; o Benfica quer um guarda-redes, um lateral-direito e desde ontem, provavelmente, um extremo; o FC Porto procura um ou dois defesas-centrais, um extremo e um avançado.
Estamos a duas semanas do final do mercado de verão, ainda há tempo. Aposto, porém, que os respetivos treinadores gostavam, hoje, de ter a certeza de que continuam a contar com os jogadores que planearam ter no plantel durante a presente temporada e ainda podem ser alvos de investidas de mercado por parte de clubes mais poderosos (quase todos os da Grande Europa futebolística ou do Novo Mundo árabe).
As administrações verão as coisas por outro ângulo, e acredito que com a solidariedade absoluta dos técnicos. As SAD precisam de encaixes financeiros e enquanto há vida (leia-se prazo) há esperança.
Dir-me-ão que o mercado de certa forma se autorregula e que os clubes do mundo futebolístico inteiro se habituaram a esta forma de estar e fazer.
Mas a pergunta é: não se autorregularia na mesma se os mercados fechassem antes de se iniciarem as competições? Em final de julho, por exemplo, e mesmo assim com riscos de já decorrerem pré-eliminatórias de provas europeias?
É justo para Amorim poder perder Gyokeres, para Schmidt poder perder António Silva ou para Vítor Bruno poder perder Pepê quando o campeonato já vai em andamento e daqui a pouco já se conhecem os percursos europeus de cada equipa? Os exemplos são aleatórios, poderíamos falar de outros jogadores quaisquer.
É justo, visto pelo lado dos jogadores, ficarem condicionados por eventual participação num jogo europeu que os impeça de atuar, na mesma competição, por outro clube ao qual o seu atual patrão decidir vender os direitos desportivos?
Criaram-se janelas de mercado de verão e de inverno para ele — o mercado — poder funcionar e para clubes e treinadores corrigirem lacunas e suprirem necessidades estruturais (no verão) e pontuais (no inverno). Mas, neste modelo, que treinador, em agosto e a competir ao mais alto nível, sabe as necessidades reais que terá em setembro?
Eu sei a resposta, foi dada pela campanha de Bill Clinton às presidenciais americanas de 1992 nos EUA: «É a economia (de mercado), estúpido!»
Se calhar mais valia nunca fechar.