Discrepâncias entre futebol masculino e feminino
Joga Bonito é o espaço quinzenal de opinião de Raquel Sampaio, Agente FIFA
Quem nestas linhas me lê regularmente, quem me conhece e acompanha nas redes sociais, ou quem já teve a oportunidade de cruzar-se comigo, sabe que sou acérrima defensora de uma igualdade de direitos, deveres e privilégios entre futebol masculino e feminino. Sabe que tenho acentuado a necessidade de profissionalizar a Liga feminina de futebol em Portugal, de forma que as jogadoras sintam que vale a pena apostar e jogar futebol em Portugal.
Infelizmente, não tem sido nada disso o que tem acontecido. Para grande pena minha. Alguns episódios das últimas semanas demonstram exatamente isso.
A começar pela divulgação das verbas relativas aos prémios atribuídos aos clubes participantes na Taça de Portugal. Anunciou a FPF, com alguma pompa, que «aumentou o valor a atribuir aos clubes que participam na Taça de Portugal Feminina”» sublinhando que esse aumento atinge os 30 por cento em relação à temporada passada. A título de exemplo, pela presença na final o vencedor receberá 80 mil euros, o vencido 40 mil (na época passada 50 mil para o vencedor, 30 mil para o vencido). Tudo certo, não fosse o pormenor da discrepância: O próximo vencedor da Taça de Portugal masculina irá arrecadar 325 mil euros pela presença na final, o vencido 175 mil euros. A diferença é substancial entre os dois géneros.
Outro exemplo que obriga a reflexão: A Joana Martins, jogadora do Sporting e da Seleção Nacional, fraturou a clavícula num amigável com o Sevilha, no dia 8 de agosto. Foi sinalizada a necessidade de uma intervenção cirúrgica… que apenas se realizou no dia 20 de agosto, 12 dias depois. Porque, alegadamente, o cirurgião especialista escolhido para a intervenção não estava disponível mais cedo. Impensável tal episódio acontecer no futebol profissional masculino.
E ainda a rábula dos horários dos jogos das meias-finais e final da Supertaça Feminina – neste caso envolvendo a equipa do Sporting – sobrepostos com os horários da equipa masculina dos leões. Não foram revelados números oficiais, mas as bancadas do Restelo estavam muito despidas, tendo sido, seguramente, a final que nos últimos anos recebeu menos público. O que contrasta com as audiências da TV, em canal aberto e em prime time a Supertaça foi o segundo programa mais visto da última sexta-feira. O que demonstra que há interesse e há potencial. Mas é preciso melhor promoção e não é com exemplos destes que lá vamos.
Nem tudo é negativo: Parabéns ao FC Porto e à sua equipa feminina que no domingo vão fazer um jogo de apresentação aos adeptos… em pleno Estádio do Dragão.